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Lançando plano de agroenergia para o País

OESP, Economia, p. B9
15 de Out de 2005

Lançando plano de agroenergia para o País

Renée Pereira
Colaborou: Gustavo Porto

O Ministério da Agricultura lançou ontem em Piracicaba, no interior de São Paulo, o Plano Nacional de Agroenergia para melhorar o aproveitamento da biomassa no Brasil. Elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o programa tem o objetivo de desenvolver tecnologias e elaborar diretrizes para a produção sustentável da agricultura de energia renovável.
De acordo com o plano, a produção de agroenergia no Brasil estará concentrada em cinco grupos: florestas (carvão e lenha), biogás, biodiesel, etanol (cana-de-açúcar) e resíduos. Para isso, no entanto, serão necessárias várias políticas governamentais na área de tributos, abastecimento, meio ambiente e comércio internacional, afirma o diretor-presidente da Embrapa, Silvio Crestana. "Precisamos aprofundar os estudos sobre o assunto."
Para o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, há muitos desafios pela frente, como o desenvolvimento de tecnologias de produção, com definição de plantas aptas e sistemas de produção eficientes. "Estamos criando um programa histórico, um projeto de energia para o mundo."
De acordo com o documento apresentado, entre os fatores que impulsionam o desenvolvimento tecnológico para aproveitamento da biomassa está o reconhecimento desse tipo de energia para substituir o petróleo como matéria-prima em seu uso como combustível ou insumo para a indústria química.
Segundo o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, até dezembro o País terá auto-suficiência em petróleo. Mas a manutenção dessa auto-suficiência até 2013 dependerá especialmente das alternativas de energia limpa para deslocar o consumo do combustível fóssil. Além do álcool, o biodiesel também é visto como a energia do futuro, que reduzirá a dependência do País pela importação do diesel.
O vice-presidente da Dedine, fabricante de equipamentos para o setor, afirmou que hoje há na empresa cerca de 60 orçamentos para construção de plantas de produção de biodiesel no Brasil. Destes, 20 projetos têm grandes chances de sair do papel. Para ele, no entanto, é preciso que haja incentivo por parte do governo para que esses empreendimentos saiam do papel.
NOVA FÁBRICA
Durante o lançamento do Plano, o ministro da Agricultura também anunciou a construção de uma fábrica de biodiesel pelo Frigorífico Bertin. A unidade, com capacidade para produzir 110 milhões de litros do combustível por ano, será instalada em Lins, em São Paulo, e começará a operar em junho de 2006. A matéria-prima será o sebo de boi reagido com o metanol. Neste caso, não é possível fazer o combustível com o etanol.
Será a maior usina de biodiesel do Brasil e a maior do mundo com esse tipo de matéria-prima. A produção da fábrica corresponderá a 14% da demanda interna no programa B2 (adição de 2% de biodiesel no diesel fóssil). O investimento está calculado em R$ 40 milhões, afirmou o diretor da empresa, José Luiz Toledo.
FUTURO
A Embrapa acredita que em trinta anos, a produção de biodiesel no País para abastecimento do mercado interno alcance cerca de 50 bilhões de litros. O otimismo da estatal com o novo tipo de combustível também se demonstra nas expectativas de que as exportações de biodiesel poderão responder, até 2035, por um volume equivalente ao que será consumido no mercado interno.
Segundo a empresa, o parque nacional de usinas produtoras de biodiesel será composto por pequenas unidades, voltadas para o atendimento da demandas localizadas, e por médias e grandes unidades, que atenderão o mercado atacadista e as exportações.
A média de produtividade poderá crescer dos atuais 600 quilos por hectare para até 5 toneladas por hectare com a melhoria dos sistemas de produção, aumento de produtividade e de teor de óleo das oleaginosas atuais. "Mas isso se tivermos investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação, capaz de promover um adensamento energético das espécies oleaginosas", destacou Crestana. Hoje, segundo a Associação Nacional do Petróleo (ANP), o Brasil tem 12 fábricas produtoras de biodiesel, das quais 5 estão autorizadas a produzir comercialmente e 7 estão em processo de autorização. Juntas, elas tem um potencial de produção anual de 176 milhões de litros de biodiesel.

Cidade de Deus vai produzir biodiesel
PROJETO: A Cidade de Deus, favela carioca que ganhou fama internacional como cenário de filme de ação, está prestes a receber R$ 4,5 milhões em investimentos em uma usina de biodiesel. O projeto é capitaneado pela Linha Amarela S.A. (Lamsa) - concessionária de uma das principais via de acesso à zona Oeste da cidade, que cruza a favela - em parceria com o governo federal. A usina vai produzir biodiesel a partir da soja e deve entrar em operação a partir de 2007.
O projeto foi elaborado segundo a política de responsabilidade de social da Lamsa, com o objetivo de desenvolver atividades nas comunidades que cercam a via expressa, de 20 quilômetros, que convive frequentemente com assaltos e tiroteios. A usina de biodiesel será administrada por uma entidade da própria Cidade de Deus, ainda não definida, e vai gerar até 60 empregos na favela, quando estiver operando em sua capacidade máxima.
Todos os funcionários serão moradores do local, que tem mais de 60 mil habitantes, segundo cálculos do administrador regional da prefeitura para a Cidade de Deus, Francisco Filho.
A produção, segundo a empresa, será destinada ao abastecimento de frotas de ônibus urbanos no Rio. A Lamsa também é potencial consumidora, já que tem uma frota de veículos para inspeção da via, além de usar geradores de energia a óleo diesel. O biodiesel é misturado ao diesel derivado do petróleo antes de ser utilizado por motores automotivos ou sistemas geradores de eletricidade.
A empresa informou que existe também a possibilidade, em um segundo momento, de a usina produzir biodiesel também a partir de óleo de fritura.

OESP, 15/10/2005, Economia, p. B9

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