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Jornal ingles revela exploracao no Brasil

CB, Brasil, p.15
02 de Nov de 2004

Jornal inglês revela exploração no Brasil
André Carravilla
Da equipe do Correio
Duas semanas depois de ter irritado o governo fluminense com reportagem que classifica o Rio de Janeiro como cidade da cocaína e da carnificina, o jornal britânico The Independent volta a criticar o país. Matéria publicada ontem revela a existência de 25 mil trabalhadores escravos atuando no Pará. Eles seriam contratados para desmatar a região amazônica. Como aconteceu com a última reportagem que teve o Brasil como tema principal, essa também provocou polêmica. A novidade é que até gente da oposição saiu em defesa do país.
A grande preocupação dos políticos é com a imagem brasileira no exterior. "Esse tipo de matéria é péssima para o Brasil. Eu não acredito nesses números", reagiu a deputada federal Kátia Abreu (PFL-TO). A parlamentar teme que a reportagem passe a impressão de que o trabalho escravo é freqüente no país. "Podem começar a atribuir a nossa competitividade no agronegócio a esse tipo de expediente", afirma a deputada. Kátia considera possível que esse tipo de suspeita faça a Organização Mundial do Comércio colocar em discussão o tratamento dispensado à mão-de-obra utilizada nas regiões agrícolas do país.
0 deputado federal José Sarney Filho (PV-MA) concorda que esse tipo de reportagem é prejudicial para o país. Contudo, ele especula que o volume de pessoas voltadas para esse tipo de atividade seja bem maior do que o calculado pelo jornal. Ele apenas faz questão de acrescentar que não tem condições de avaliar se os trabalhadores das madeireiras são escravos. "É lógico que deve haver alguns, mas casos de privação de liberdade devem ser poucos. Há casos pontuais de desrespeito à legislação trabalhista", afirma Sarney.
Flávio Montiel, diretor de Proteção ao Meio Ambiente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), considerou alarmista a reportagem do The Independent. "Esses números são um exagero", avaliou. Segundo ele, operações realizadas na Amazônia libertaram, entre janeiro e agosto deste ano, 286 trabalhadores que viviam em regime de semi-escravidão.
Procurado pelo Correio, o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, não retornou as ligações.
Fotos aéreas
O repórter do The Independent sobrevoou o Pará e sustenta que "cerca de 25 mil homens atuando como trabalhadores escravos estão sendo forçados a destruir milhares de acres da floresta". Segundo o jornal, o total do desmatamento foi obtido por meio de fotos aéreas da Amazônia. 0 Ministério do Meio Ambiente calcula que 16% da floresta foi desmatada.
0 diário afirma que, além de serem "forçados a destruir vastas áreas da floresta, os homens que atuam na Amazônia precisam trabalhar para amenizar dívidas" relativas a transporte, alimentação e ferramentas, que nunca conseguem saldar.
CB, 02/11/2004, p. 15

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