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Ir a Visconde de Mauá vai ficar mais fácil

OESP, Metrópole, p. C6-C7
26 de Set de 2010

Ir a Visconde de Mauá vai ficar mais fácil
Caminho para destino turístico no sul do Rio está sendo pavimentado como estrada-parque

Clarissa Thomé

O caminho para Visconde de Mauá, no sul fluminense, está tomado por retroescavadeiras, caminhões e tratores. Duzentos operários pavimentam um trecho da RJ-163 que corta a Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira. Primeira via do País construída no conceito estrada-parque, prevê travessias para animais, asfalto menos poluente, preservação do curso de rios e córregos da região.
Apesar das inovações, a estrada está longe de ser unanimidade. Ministérios Público Federal e Estadual questionam o licenciamento ambiental e pedem embargo da obra na Justiça. Ambientalistas da cidade reclamam do "percurso de destruição" deixado pelas máquinas. Até mesmo a Associação Turística de Visconde de Mauá (Mauatur), defensora da estrada, encaminhou ofício ao governo do Estado mostrando preocupação com a "tendência à saturação", que poderia "comprometer a mobilidade" de moradores e causar impactos ambientais.
Orçado inicialmente em R$ 47 milhões, o projeto que já atinge os R$ 80 milhões prevê 20 km de pavimentação nos trechos Capelinha-Mauá e Maromba-Ponte dos Cachorros. A estrada, que tinha 4 metros de largura, foi duplicada. O terreno, cheio de pedras e que costuma ser interditado em dias de chuva forte, está sendo coberto por asfalto de polímero, menos poluente.
Para garantir as rotas migratórias dos animais, minimizando riscos de acidente, estão sendo instalados bichodutos, ou zoopassagens. Também foram projetados mirantes. A estrada fica na Serra da Mantiqueira e tem a Serra da Bocaina ao fundo, numa região a 1.300 metros de altitude.
"É uma estrada delicada, com trechos estreitos, cercada por mata em regeneração em área de preservação permanente. Quando duplicaram a estrada, escavadeiras derrubaram milhares de metros cúbico de areia, numa região de instabilidade em dias de chuva. Onde havia orquídeas há cimento", criticou o presidente da Pró-Fundação Mantiqueira, Lino de Sá Pereira. "Estrada-parque não é para virar rodovia".
Além da preocupação com a obra, há o temor de que a região não tenha estrutura para suportar o possível aumento do turismo. Em Visconde de Mauá, vivem 5 mil pessoas. Essa população dobra na alta temporada. A área tem 170 pousadas e chalés para aluguel, cuja ocupação anual é baixa - em torno de 20%.
"A estrada é fundamental para o desenvolvimento econômico. Nossa esperança é que impulsione o turismo em 20%", afirmou Oswaldo Caniato, da Mauatur. Ele teme, no entanto, o turismo predatório - o chamado bate-volta -, em que visitantes levam alimentos e bebidas e não contribuem com a economia da região. E defende cobrança de pedágio. Essa "contribuição ambiental", porém, ainda não foi aprovada.
O secretário de Obras, Hudson Braga, explica que o projeto incluiu a construção de uma rede de esgoto, para absorver o aumento da população. "Há supervisão ambiental, inclusive com cadastramento de árvores derrubadas", afirmou. "Não há como fazer estrada-parque com zero de impacto ambiental. Mas estamos monitorando de perto, inclusive com participação dos moradores", afirma o presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Luiz Firmino.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100926/not_imp615349,0.php

Moradores temem impacto da obra na região

Clarissa Thomé

O movimento no Ponto Pergunta, um boteco de beira de estrada, aumentou muito. Nos "dias bons", o proprietário, José Pedro de Oliveira, de 63 anos, costumava servir três, quatro refeições no almoço. Hoje, com a obra da estrada-parque, são 52 marmitex, diariamente.
"Tem gente que acha que passar no chão (sem asfalto) é mais gostoso, mas não tem carro que aguente. Se acham que o bom é estrada esburacada, vamos passar a mão na picareta e esburacar a Dutra", disse, numa crítica aos ambientalistas, que criticam o avanço das obras.
A resposta de Oliveira dá a medida do clima em Visconde de Mauá. A região está dividida. "É um tiro no pé", resume o fotógrafo Igor Bier Pessoa, que vive há 20 anos ali, entre idas e vindas. "A região só ficou preservada assim porque economicamente não deu certo. Em vez de aproveitar a sua vocação de um turismo mais restrito, querem se abrir à especulação estúpida."
O funcionário aposentado do Banco Central Joaquim Moura, de 63 anos, que se mudou há 8 para Mauá, afirma que paralisar a obra não interessa a ninguém. "A gente quer aprofundar a discussão sobre os impactos negativos e positivos, e as medidas para controlar a destruição", diz.
Já a professora Eliane Bastos, de 57 anos, comemora a pavimentação da estrada. "É uma região que não tem hospital. Mulheres já tiveram seus filhos descendo essa estrada esburacada numa Kombi. É uma questão de segurança", defende.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100926/not_imp615351,0.php

OESP, 26/09/2010, Metrópole, p. C6-C7

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