OESP, Economia, p. B15
07 de Out de 2006
Inferno astral atrasa expansão do setor elétrico
Dificuldades com licença ambiental afastam grandes investidores e ameaçam leilão marcado para terça-feira
Renée Pereira
O governo tem tido mais dificuldade do que imaginava para conseguir pôr em prática um plano consistente de expansão do setor elétrico brasileiro. Não faltam problemas para aumentar as incertezas e reforçar a tese de inúmeros especialistas de que o País terá novamente um racionamento. Nos últimos meses, o setor parece ter entrado num inferno astral. Não há gás para abastecer as térmicas e está cada vez mais complicado conseguir licença ambiental para as hidrelétricas, o que tem afastado os grandes investidores do setor.
Para o leilão da próxima terça-feira foram habilitados 40 empreendimentos (7 mil MW), sendo apenas quatro concessões de hidrelétricas (Dardanelos, Barra do Pomba, Cambuci e Mauá). Mas a maior delas - Mauá, com 360 MW - corre o risco de ficar fora da disputa por causa de uma decisão judicial que suspendeu a participação da usina do leilão. A Justiça Federal do Paraná questiona o processo ambiental da hidrelétrica.
Além disso, a Usina de Dardanelos tem licença prévia de apenas três meses, ao contrário do que ocorre normalmente no setor, afirma o presidente do Instituto Acende Brasil, Cláudio Sales. Segundo ele, esse tipo de problema acaba espantando o investidor da disputa. Para a concessão das hidrelétricas, dez empresas estão pré-qualificadas. 'Vamos pagar a conta por nada ter acontecido nesses quatro anos. No ano passado, apenas 800 MW foram licitados', alerta Sales.
TÉRMICAS
Com essa dificuldade nos projetos hídricos, o governo tem elevado o volume de usinas térmicas movidas a óleo combustível e diesel, mais caras e mais poluentes. O diretor-presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia Elétrica (Abiape), Mário Luiz Menel da Cunha, diz que terá uma audiência com o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, no dia 11. 'Queremos expor as condições que excluem os autoprodutores dos leilões', diz ele, acrescentando que as empresas associadas têm cerca de R$ 3 bilhões para investir na expansão do setor.
Outro fator que vem tirando o sono do governo é a falta de gás para abastecer as térmicas, o que tem ajudado a diminuir o nível dos reservatórios e aumentar o custo da energia. Como essas térmicas não têm conseguido atender aos pedidos de funcionamento do Operador Nacional do Sistema (ONS), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vem tentando encontrar uma alternativa para a 'indisponibilidade' das usinas. Se as térmicas forem retiradas do plano de operação, a curva de aversão a risco será alterada e os preços no mercado à vista vão subir, completa o diretor da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Lúcio Reis.
Por isso, ONS e Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) estão elaborando estudo de como diminuir o impacto da indisponibilidade das térmicas no setor. Ainda não se sabe o resultado desses trabalhos, mas a Aneel já se antecipou e pôs o tema em audiência pública para receber sugestões das empresas da área. Segundo o diretor da comercializadora Ecom, Márcio Valério, o impacto sobre o preço pode ser amenizado se as chuvas vierem acima da média, o que reduziria a necessidade de funcionamento das térmicas.
OESP, 07/10/2006, Economia, p. B15
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