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Índios waimiri-atroari são exemplo de sustentabilidade ambiental

Amazonas Em Tempo
Autor: Orlando Farias
21 de Jun de 2008

Índios waimiri-atroari são exemplo de sustentabilidade ambiental
Povo atua na conservação socioambiental a partir de suas tradições, repassando conhecimentos por meio das ações de ancestrais.

Orlando Farias
Da equipe do Em Tempo

No mês de abril, os waimiri-atroari libertaram 300 mil filhotes de tartarugas repovoando os rios e lagos do território. Essa é uma prática que eles vêm conservando há muitos anos. O coordenador do Programa Waimiri-Atroari, Marcelo Cavalcante, diz que a preocupação em manter o território em permanente fartura é uma constante.
Para se ter uma idéia do zelo com a fauna, os índios reproduzem em cativeiro animais como mutuns, cutias, pacas, tatus e antas, à beira da BR-174, num posto conhecido por Nawa. Os outros são libertados na floresta para repovoarem as respectivas populações da espécie.
Marcelo Cavalcante já trabalhou com os Parakanã, no Pará, e percorreu reservas de várias tribos. "Mas eu nunca vi uma floresta tão preserva como a dos Uaimiris", diz ele, que viu nesses indígenas um exemplo de sustentabilidade.
Os índios waimiri-atroari, do rio Alalaú e Camanaú, ao Norte do Amazonas e Sul de Roraima, vivem em 22 aldeias, num território de 2,2 milhões de hectares. Esses índios são referência brasileira de como um grupo étnico deve preservar seu território e mantê-lo intacto, com fartura de animais silvestres, peixes e quelônios.
O motivo é muito simples: a reserva não registra invasões de garimpeiros e madeireiros porque elas sempre foram rechaçadas da forma mais viril.
Não é por acaso que os índios são historicamente considerados os mais guerreiros do Estado. Atacada tantas vezes por esses indígenas, a população de Novo Airão mudou-se da margem esquerda para a direita do rio Negro.
Ferozes, eles reagiram à passagem do leito da BR-174 (Manaus-Boa Vista) sobre suas terras. Trucidaram militares e trabalhadores do 5 BEC do Exército e foram praticamente dizimados, segundo a própria história contada que ficou registrada nos anais de uma mineradora que usurpou grande parte de seu território. Para ficar com jazidas de ouro e cassiterita, a mineradora teria atirado bombas sobre as aldeias dos índios.
Com uma história dessas, os waimiri-atroari criaram zelo demasiado por suas terras. Royalties da própria mineradora e também da antiga Eletronorte (hoje Manaus Energia), por conta da inundação de um terço de suas áreas para a formação do lago de Balbina, permitiram que os indígenas cuidassem de preservar a área indígena demarcada ainda no governo militar do general João Baptista Figueiredo.
Os atuais waimiris
Existem hoje na terra Waimiri-Atroari, à margem esquerda do baixo rio Negro, nas bacias dos rios Jauaperi e Camanaú e seus afluentes os rios Alalaú, Curiaú, Pardo e Santo Antonio do Abonari, cerca de 6.000 índios.
Na década de 1970 a estimativa da Fundação Nacional do Índio (Funai) era de 500 a 1000 pessoas.
Limites de terras assegurado
Os waimiri-atroari, durante muito tempo, estiveram presentes no imaginário do povo brasileiro como um povo guerreiro, que enfrentava e matava a todos que tentavam entrar em seu território.
Essa imagem contribuiu para que autoridades governamentais transferissem a incumbência das obras da rodovia BR-174 ao Exército brasileiro, que utilizou de forças militares repressivas para conter os indígenas. Esse enfrentamento culminou na quase extinção do waimiri-atroari. A interferência em suas terras ainda foi agravada devido a instalação de uma empresa mineradora e o alagamento de parte de seu território pela construção de uma hidrelétrica. Mas os waimiri-atroari enfrentaram a situação, negociaram com os brancos e hoje têm assegurados os limites de sua terra, o vigor de sua cultura e o crescimento de sua gente.

Amazonas Em Tempo, 21/06/2008

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