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Índios urbanos fundam associação

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
13 de Out de 2004

Denominada de Associação Municipal Indígena Guàkrî de Boa Vista (AMIGB) nasceu, no último sábado (9), mais uma entidade voltada para a defesa dos índios em Roraima. A Guàkrî - que significa teso do buritizal - terá como foco de suas ações o resgate da dignidade dos índios urbanos. Conforme os dados repassados pela presidente da nova organização, a índia macuxi Gildélia Santos dos Santos - são cerca de sete mil indígenas de várias etnias que vivem relegados à própria sorte na Periferia da Capital roraimense. "É por esses nossos parentes que vamos lutar", afirmou em entrevista à Folha.

Conforme o estatuto da nova associação, aprovado em assembléia realizada no final de semana com a presença de aproximadamente 100 índios, a entidade tem por objetivo prestar apoio aos indígenas da cidade de Boa Vista, sobretudo das etnias macuxi, wapixana, taurepang, ingarikjó, iquana, wai-wai, yanonami, pantamona e xiriana. Esse apoio será dado através de trabalhos sociais, como a abertura de creches indígenas, encaminhamento para a consecução de benefícios ou documentos juntos aos órgãos públicos, tratamento de saúde dentro ou fora do país e a ajuda aos índios urbanos que queiram retornar às suas malocas de origem.

"Além disso, vamos conscientizar nossos irmãos da necessidade de, mesmo na cidade, preservarmos a nossa história, as nossas culturas, línguas, crenças e tradições. Esses índios vivem muito discriminados na cidade, muitos perderam seus referenciais culturais. Então, nosso objetivo é resgatar esses valores", disse Gildélia Santos, assinalando que a luta maior, no entanto, será para assegurar o reconhecimento dos direitos constitucionais dessas pessoas. "Vamos combater a situação e miséria e exploração a que estão submetidos os índios urbanos. Muitos deles estão entregues ao álcool e as jovens índias à prostituição exatamente porque não lhes é assegurado o direito a uma vida digna", ressaltou.

A Associação Guàkrî se soma às demais entidades como Sodiur, Alidicir e Arikon que apóiam a demarcação da terra indígena Raposa/Serra do Sol em ilhas, preservando o município de Uiramutã, as vilas, estradas e áreas produtivas de arroz. O mentor da sua fundação foi o líder indígena Gilberto Macuxi. É ele quem explica a necessidade da nova entidade: "existem índios das etnias macuxi, wapixana, taurepang, ingarikjó, iquana, wai-wai, yanonami, pantamona, xiriana que vivem na cidade entregue à própria sorte. São indígenas esquecidos e discriminados pela Funai, Funasa e outras entidades indígenas. Vivem jogados à própria sorte, sem direito à educação, saúde ou qualquer benefício".

Conforme Gilberto Macuxi, a entidade que nasce defenderá de forma intransigente o direito desses índios junto aos órgãos governamentais municipais, estaduais e federais. "Vamos buscar capacitação para aqueles que queiram estudar, fazendo curso superior dentro e fora do Brasil, inclusive. Só queremos mostrar que eles têm direito e que é preciso lutar por eles", afirmou salientando que as mulheres indígenas da cidade não são contempladas com auxílio maternidade e os idosos a aposentadoria, assim como os jovens não recebem bolsa-escola. "Hoje esses parentes têm que viver no lixão brigando com os urubus. São pessoas geralmente usadas e exploradas em período eleitoral, mas abandonadas depois de passada a época de campanha", registrou.

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