24 Horas News
04 de Jun de 2006
Os cerca de 130 índios do Parque Indígena do Xingu provocaram um quebra-quebra no canteiro de obras da pequena central hidrelétrica Paranatinga II, em Campinápolis, a 500 quilômetros de Cuiabá, e depois abandonaram o local na noite do sábado, 03. Eles haviam invadido as instalações da PCH na quarta-feira, 31, e mantiveram 220 trabalhadores em cárcere privado durante três dias. A Paranatinga Energia S/A, concessionária da construção, ainda não quantificou os prejuízos.
Os índios arrombaram dezenas de portas e janelas e saquearam computadores, material de escritório, equipamentos de comunicação, máquinas fotográficas, estoques de alimentos, roupas e pequenas ferramentas. Também destruíram móveis, aparelhos de telefonia e sistemas de comunicação e maquinários pesados. Eles levaram uma camionete L200, cabine dupla, de placas JZX-9969, de propriedade da empresa, que até o final da tarde de domingo não havia sido localizada pela polícia.
A saída dos índios ocorreu com o uso de duas camionetes (uma da Funai), um ônibus e um caminhão. Na madrugada anterior, uma parte dos invasores já haviam deixado o canteiro com um caminhão. Desde a sexta-feira à tarde, quando a procuradora federal Ana Maria Carvalho, representante da Funai, chegou ao local e abriu as negociações, os índios não admitiam abandonar a hidrelétrica. A retirada pegou a direção da empresa de surpresa.
O diretor de Operações da Paranatinga Energia, Manuel Martins, lamentou a invasão da construção e os rastros de destruição. "A obra está paralisada desde o dia 28 de abril por uma decisão judicial e a empresa sempre esteve aberta ao diálogo. Creio ter sido uma decisão impensada de um pequeno grupo de índios. Nada disso era necessário", afirmou. Habitam o Parque Indígena do Xingu cerca de 4,7 mil índios.
Os 130 índios, sob o comando de jovens líderes do Xingu, querem a paralisação imediata das obras sob a alegação de que estaria sendo construída em local sagrado, onde teria ocorrido o primeiro Kuarup, a mais importante celebração xinguana. Uma pesquisa antropológica e arqueológica, apresentada na sexta-feira para a direção da Funai, em Brasília, comprovou, porém, que o sítio sagrado fica a 7 quilômetros abaixo da hidrelétrica, no rio Culuene.
Os cerca de 220 trabalhadores que foram mantidos em cárcere privado da manhã de quarta-feira até o final da tarde de sexta-feira, foram instalados pela Paranatinga Energia em quatro hotéis do município de Água Boa. A empresa ainda não decidiu se irá solicitar o retorno ao canteiro de obras.
Uma comissão de lideranças do Parque Indígena do Xingu se reúne às 9h30min desta segunda-feira, 05, em Brasília, com o presidente substituto da Fundação Nacional do Índio (Funai), Roberto Lustosa. O encontro foi intermediado pela procuradora federal Ana Maria Carvalho que esteve no local da invasão para negociar a saída dos trabalhadores na sexta-feira à tarde.
"A Funai vai cumprir todo o acordo que fez com os índios para a retirada dos trabalhadores", afirmou. Segundo ela, o órgão indigenista se comprometeu a organizar e financiar uma caravana de cerca de 45 índios para um encontro com a presidência da Funai em Brasília ainda nesta semana. "Vamos também assegurar todo o apoio jurídico a eles", completou.
Ana Carvalho lamentou o quebra-quebra provocado pelos invasores antes de deixarem o local. "Eles haviam assumido o compromisso de preservar todo o patrimônio da empresa. Esta, sem dúvida, será uma das pautas do nosso encontro com a comissão", disse. A comissão é formada pelo cacique Aritana Yawalapiti e por dois líderes jovens da invasão, Marcelo Kamaiúra e Agoré Ikpeng.
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