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Índios protestam contra Belo Monte

OESP, Economia, p. B10
16 de Set de 2009

Índios protestam contra Belo Monte
Novo ato ocorreu durante audiência pública sobre construção de usina

Carlos Mendes

Apesar do apoio que recebeu de algumas comunidades indígenas do Xingu, o governo federal ainda vai enfrentar muita resistência para construir a usina hidrelétrica de Belo Monte. As quatro audiências públicas até agora realizadas para ouvir comunidades da floresta - duas em Altamira, no último fim de semana - terminaram em protestos, inclusive com intervenção da Força Nacional. Em Belém, ontem à noite, índios de várias etnias fecharam ruas em frente ao Centur, local da reunião, afirmando que não permitirão a obra.

"Isso é uma palhaçada, estão impedindo os povos da floresta de falar na audiência e dizer que não querem a usina. O governo veio para a audiência com tudo já decidido", protestava um dos diretores do Fórum da Amazônia Oriental (Faor), Mateus Waterloo. Com faixas e cartazes, os índios, com apoio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) dançavam pintados para a guerra, enquanto 20 homens da Força Nacional formavam um cordão de isolamento para evitar a invasão do auditório.

Indiferentes à manifestação, dirigentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), tendo ao lado representantes da Funai e Eletronorte, exibiam vídeos, gráficos e números para mostrar a importância da usina, alegando que ela será responsável pela geração de emprego e renda na região. Eles também procuravam atenuar as queixas sobre o impacto ambiental da obra, que vai provocar a inundação de áreas ocupadas por comunidades tradicionais. Para o Ibama, esse impacto será muito menor que o causado pela construção da hidrelétrica de Tucuruí, nos anos 70.

Para as entidades sociais e ambientais, o projeto deve aumentar a miséria e a violência, além de destruir a fauna e a flora da região, expulsando milhares de pessoas das áreas rurais e urbanas onde residem.

Em carta enviada em julho ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Faor diz que a decisão de construir Belo Monte em uma bacia como a do Rio Xingu, "com sociobiodiversidade única no planeta", não pode ser tomada "atropelando a população, os costumes locais, a sabedoria dos povos das florestas, e o próprio processo de licenciamento previsto em lei".

O Ministério Público Federal (MPF) promete cobrar do governo estudos complementares antes da decisão sobre a viabilidade ambiental da hidrelétrica. Nessa batalha para evitar que a usina seja aprovada sem um debate mais profundo, conta com o apoio do Painel de Especialistas, um grupo de estudiosos não ligados ao governo que analisa a obra.

OESP, 16/09/2009, Economia, p. B10

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