G1 - http://g1.globo.com/
03 de Nov de 2011
Cerca de 20 indígenas entraram em canteiro com paus e arcos e flechas.
14 ambientalistas foram detidos pela Polícia Militar nesta quinta-feira (3).
Índios da etnia Fulni-ô e Guajarara pararam as máquinas que trabalhavam na manhã desta quinta-feira (3) no canteiro de obras da construtora Emplavi, no Setor Noroeste, área nobre de Brasília. Cerca de 20 indígenas entraram no terreno e, com paus e arcos e flechas, bateram nos tratores e escavadeiras.
Policiais militares que faziam a segurança no local e haviam detido 14 ambientalistas nesta manhã se reuniram com os indígenas para tentar resolver a situação. Após conversa com policiais, os índios deixaram o canteiro, mas permanecem do lado de fora do terreno e bloqueiam a estrada com galhos e pedaços de madeira. Dizem que só saem do local com a presença da Funai.
O coronel Sebastião Gouveia, responsável pela operação de segurança no Noroeste nesta quinta-feira disse que notiifcou a Secretaria de Segurança Pública do DF sobre a situação no Noroeste para que órgãos competentes - Ibama, Funai e Polícia Federal, segundo ele - sejam, acionados. O efetivo de policiais militares foi aumentado e passou de 80 para 150 homens.
Enquanto representantes dessas instituições não chegam, a Polícia Militar afirma que vai permanecer nas áreas de conflito. "Temos ordem judicial para permanecer aqui", falou o coronel. De acordo com ele, outras prisões podem acontecer se os manifestantes pertubarem a ordem pública. "Estamos aqui para manter a ordem."
Membro da etnia Guajajara, o advogado Arão da Providência Araújo Filho, integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil - seccional Rio de Janeiro, informou que o grupo resolveu protestar porque máquinas da construtora teriam invadido e desmatado área indígena.
Segundo ele, a área ocupada pelos Guajajara fica fora da de 4,1815 hectares que não foi vendida a nenhuma empreiteira e está protegida pela Justiça, mas está dentro dos 50 hectares que são reivindicados pelos índios. Os Guajajara não souberam precisar há quanto tempo vivem no local.
"Essa área é dos índios e nós não vamos correr, inclusive há crianças aqui. As autoridades não estão com a gente, então, nós vamos ficar e ser a autoridade desta área, junto com os Fulni-ô", disse o cacique Guajajara José Machado.
Em nota, a construtora Emplavi informou que a retomada das obras no terreno em disputa está assegurada "por medida judicial do Tribunal Regional Federal proferida pela desembargadora federal Serene Maria de Almeida, no dia 21 de outubro. A manutenção da área indígena segue fixada em 4,1815 hectares, que é a área que a comunidade indígena efetivamente ocupa."
Acordo
No dia 18 de outubro, oito famílias indígenas que ocupam o Setor Noroeste aceitaram o acordo proposto pela Terracap, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi) para deixar o local.
Segundo o advogado que representa essas famílias, George Peixoto, os indígenas aceitaram ser removidos para uma área da Terracap próxima ao Noroeste, chamada de Área Especial Cruz. A área, de cerca de 12 hectares, será doada para a União e repassada para a Funai, para a criação de uma reserva indígena.
A Terracap informou que vai construir moradias com infraestrutura adequada para receber as famílias. O presidente do órgão, Marcelo Piancastelli, disse que ainda não há previsão para a remoção dos indígenas, mas afirmou que isso deve ocorrer o mais brevemente possível.
Piancastelli também falou que o acordo é importante para evitar que outros indígenas ocupem a região.
De acordo com o procurador geral da Funai, Antônio Salmeirão, o estudo prévio feito por antropólogos diz que existem alguns indícios de que a área seja indígena, mas não conclui que a região era tradicionalmente ocupada. "Aquela não é uma área tradicionalmente ocupada. Esse é o entendimento da Funai."
Etnia remanescente
A cacique vanice Pires Tanoné, que assinou o acordo em nome das etnias Kariri-xocó e Tuxá, informou que apenas os Fulni-ô Tapuya não aceitaram a proposta de deixar a área. O procurador jurídico da Terracap, Sérgio Nogueira, disse que a empresa vai continuar aberta a negociações.
Ariel Foina, advogado que defende a permanência dos indígenas no Noroeste, disse, na época da assinatura do acordo, que a saída da região nunca foi cogitada pelos Fulni-ô. "Se eles [os Fulni-ô] quisessem casa, eles voltariam para Águas Belas [em Pernambuco, estado de origem do pajé]. O que está em jogo no Noroeste é uma área especial, uma área que tem valor especial para o ritual deles."
http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2011/11/indios-fulni-o-e-g…
As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.