Índios entram e deputados saem às pressas

Índios entram e deputados saem às pressas
Plenário da Câmara foi ocupado por 40 minutos

Eduardo Bresciani
Ricardo Della Coletta

Numa ação inédita, o plenário da Câmara dos Deputados foi invadido na noite de ontem por centenas de indígenas durante uma sessão de votações. Eles protestam contra a criação de uma comissão especial para discutir o projeto que dá ao Congresso a palavra final sobre demarcação de terras indígenas, processo hoje sob comando da Fundação Nacional do índio (Funai). A ocupação durou cerca de 40 minutos, quando eles atenderam um apelo do presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), de desocupar o local.
Na semana em que se comemora o Dia Nacional do Índio, a Câmara realiza diversas sessões sobre o tema. Foi pela manhã que centenas de indígenas entraram na Casa para uma reunião. Lá dentro, apresentaram suas condições: só deixariam a Câmara se Alves cancelasse o ato que criou a comissão especial na semana passada, após pressão da bancada ruralista.
O presidente da Câmara foi ao encontro dos manifestantes e afirmou que pediria aos líderes partidários para não indicar os integrantes, para garantir que os trabalhos não começassem enquanto não houvesse acordo. A promessa foi considerada insuficiente. Minutos depois eles tentaram invadir o corredor que dá acesso ao Salão Verde da Casa.
A segurança conseguiu segurá-los por alguns momentos. No entanto, por volta das 18 horas eles romperam o bloqueio e tomaram o local. A partir daí seguiram para o alvo seguinte: o plenário.
Reforçada, a Polícia Legislativa trancou as portas do plenário. Diante da pressão dos manifestantes e do temor de danos ao patrimônio, a segurança diminuiu a resistência e os índios invadiram o plenário enquanto lá se votava uma medida provisória.
Assustados, deputados saíram correndo em direção à Mesa da Presidência da Câmara e alguns se refugiaram em outros lugares. Ausente, Alves foi chamado para buscar uma solução. Presente no plenário devido à inclusão na pauta de um projeto que tira tempo de TV e recursos de novos partidos, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva participou da negociação.
Da cadeira da Presidência, Alves fez um discurso duro. "O respeito a este plenário é inegociável", afirmou. Ele convidou os invasores para uma reunião em seu gabinete, onde discutiriam o assunto - desde que deixassem o plenário. Desse encontro, enfim, saiu um acordo: a criação da comissão sobre o tema ficou suspensa até o final do semestre.
Neguinho Truká, do povo Truká, uma das lideranças do movimento, defendeu o arquivamento imediato da proposta: "E inconstitucional, o Legislativo não pode tomar as ações do Executivo". Segundo Marcos Luidison, do povo Xuxuru do Ooruba, "existe uma bancada ruralista que não defende a demarcação de terras". Ele advertiu: "Se passar para o Legislativo, não teremos mais a demarcação de uma terra indígena no País".

OESP, 17/04/2013, Nacional, p. A8

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