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Índios desocupam Funai por ordem judicial

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
Autor: LUIZ VALÉRIO
12 de Jan de 2004

Depois de quatro dias sob a ocupação de indígenas contrários à homologação da reserva Raposa/Serra do Sol em área contínua, a sede da Funai (Fundação Nacional do Índio) foi desocupada no final da tarde de sábado, por determinação da Justiça Federal.

Depois de receber a intimação e o mandado de desocupação expedido pelo juiz federal, Helder Girão Barreto, o conselho composto por 20 tuxauas que comandavam as ações na Funai decidiu pela saída pacífica da sede do órgão.

A operação de cumprimento do mandado de reintegração da Funai contou com um aparato de cerca de 30 policiais federais fortemente armados, que tinham o objetivo de garantir a segurança durante a desocupação. O superintendente interino da Polícia Federal, Ianê Linário, comandou as ações que terminaram com tranqüilidade, pois os índios não ofereceram resistência.

Por alguns momentos houve desentendimento entre o advogado, Luiz Valdemar Albrecht, que assessorava os líderes das entidades indígenas Sodiur, Alidicir, Arikom - coordenadoras da ocupação do órgão - e o oficial de justiça, Iatá Linário, responsável pela entrega do mandado de reintegração de posse.

Os índios queriam a garantia de que o diretor do órgão federal, Manoel Tavares, providenciaria o transporte para conduzi-los para suas comunidades. "Temos aqui gente de todos os cantos de várias comunidades e que não podem ficar desalojada. Eles estão aqui com seus pertences e mantimentos e não podem simplesmente ficar sem ter para onde ir", argumentou o advogado.

Depois de uma tensa negociação intermediada pelo superintendente da PF, Ianê Linário e seu irmão, o oficial de justiça, Iatá Linário, Manoel Tavares se comprometeu em prover transporte para os indígenas. Fechado o acordo, os ocupantes começaram a retirar seus pertences de dentro da sede do órgão federal.

O retorno dos indígenas para suas malocas de origem começou por volta da 20h. Foram providenciados dois ônibus para transportar os mais de cem índios que se encontravam acampados na sede da Funai. A retirada aconteceu sem nenhum incidente.

Na tarde de ontem, Manoel Tavares disse que foram detectados na sede do órgão apenas "pequenos prejuízos", como portas, arquivos e armários arrombados. "O mais está tudo normal", afirmou.

INDIGNAÇÃO - A decisão de acatar a determinação judicial, no entanto, não era consensual. O tuxaua, Gilberto Macuxi, era a voz discordante. Indignado, ele defendia mais negociação. "As coisas não são assim, vamos negociar primeiro", dizia. Vendo-se vencido pela decisão da maioria, ele não conseguia esconder sua insatisfação. "Pensávamos que aqui fosse a casa dos índios, mas é a casa das ONGs", disse em relação à Funai.

Apesar de acatar a determinação de desocupar o órgão, o tuxaua Silvestre Leocádio, representando as entidades Sodiur, Alidcir e Arikom, acusou a Justiça de valorizar as ONGs estrangeiras em detrimento dos interesses nacionais. "Nós índios temos preservado todas as riquezas naturais brasileiras que agora os estrangeiros estão querendo se apossar, mas somos discriminados e desvalorizados" disse em tom de protesto.

O líder indígena pediu aos seus "parentes" que não criassem resistência e se retirassem pacificamente da sede do órgão. Por outro lado, afirmou que o movimento não vai se desfazer. Continuará.

"Nós não vamos permitir que desarticulem nosso movimento", afirmou, acrescentando que os índios que se colocam contrários à homologação em área continua não querem mais ser manipulados pelas ONGs e pelos padres. "Eu quero poder falar em nome do meu povo", disse.

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