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Índios deixam sede da Funai no AM

OESP, Nacional, p. A9
25 de Abr de 2006

Índios deixam sede da Funai no AM
Objetivo era afastar coordenador, mas grupo decidiu conversar

Liège Albuquerque

Os 22 índios mundurucus que ocuparam na noite de sexta-feira a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Manicoré, 333 quilômetros ao sul de Manaus, deixaram o prédio no domingo. A ocupação, segundo um dos líderes do movimento, tinha o objetivo de afastar o atual coordenador da Funai na região, Eurípedes Araújo Brito, que teria discriminado a etnia.

Defensores de Brito, 84 índios de outras cinco etnias estavam prontos para entrar em confronto com os invasores. Segundo o coordenador da Funai, os dois grupos acabaram não se encontrando e a desocupação foi pacífica. Para ele, a acusação dos mundurucus não passa de "um mal-entendido".

"As reivindicações de cada etnia são individualizadas e, se não estão sendo atendidas, tem de haver uma reclamação, mas não seria necessária a ocupação da sede", lamentou Brito.

Na invasão da sede da Funai, os índios reclamaram da falta de auxílio à comunidade, onde vivem 45 pessoas. Brito alega, porém, que o atendimento ao grupo é de responsabilidade do posto da Funai de Porto Velho e a reivindicação se deve à rivalidade entre as etnias de Manicoré. A situação chegou a ficar tensa porque na noite de sábado era esperada a chegada de mais cem índios em Manicoré, dispostos a defender a permanência de Brito a todo custo. "Eu temo por um conflito violento. Nunca sabemos o que pode acontecer", declarou o coordenador local da Funai.

Brito levantou suspeitas, também, sobre o propósito da invasão, dizendo que dos 22 participantes da ação, apenas 7 eram índios. "Os outros são contratados para reforçar a ação. A maioria é bandido, com passagem pela polícia", atacou. "Eu acredito que existe uma outra pessoa por trás disso tudo. Eles querem que eu saia porque eu neguei a emissão de documentos a pessoas que se diziam índios, mas não tinham estudo antropológico."

A responsável pela área técnica da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Ana Lucia Salazar, lamentou o risco de conflito: "Esse tipo de rivalidade entre os próprios índios fragiliza o movimento. Eles deviam estar unidos para lutar pelos mesmos direitos."

OESP, 25/04/2006, Nacional, p. A9

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