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Indígenas relatam medo após garimpeiros abrirem estrada clandestina na Terra Yanomami

G1 RR - https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia
12 de Dez de 2022

Indígenas relatam medo após garimpeiros abrirem estrada clandestina na Terra Yanomami
Estrada foi descoberta por indígenas Yanomami, que denunciaram a entrada de maquinário pesado na Terra Indígena. A rota clandestina tem 150 quilômetros e fica próxima à região onde vivem indígenas isolados Moxihatëtëa.

Por g1 RR - Boa Vista

12/12/2022 11h15 Atualizado há 3 meses

"Se demorar, nossas casas vão ser destruídas. As crianças estão com medo e fugindo". O relato é de lideranças da Terra Indígena Yanomami, a maior reserva indígena do país, após garimpeiros ilegais abrirem uma estrada clandestina em meio à floresta Amazônica. A via de terra tem 150 quilômetros de extensão e fica próxima à região onde vivem os indígenas isolados Moxihatëtëa. O relato foi divulgado nesta segunda-feira (12) pelo Greenpeace.

Na região do Alto Catrimani I, indígenas relataram que a nova rota dá acesso às áreas de exploração de ouro e abre o espaço para a entrada de maquinário pesado, como retroescavadeiras - o Ibama destruiu quatro delas que estavam em plena atividade, a serviço do garimpo.

"Eu não estou enganando. Chegou até nós do Alto Catrimani uma estrada de onde veio a retroescavadeira. Todos nós estamos preocupados porque nós não sabíamos que chegaria aqui três escavadeiras. Os garimpeiros não foram convidados para vir, mas eles estão aqui".
O relato divulgado pelo Greenpeace ocorreu no dia 14 de novembro, e foi feito por radiofonia, o meio mais comum de comunicação dos indígenas com pessoas que vivem fora da reserva. Nele, os indígenas também pediram que a Polícia Federal e a Fundação Nacional do Índio (Funai) retirassem os garimpeiros da Terra Yanomami.

A estrada, na avaliação do Greenpeace, está "abrindo espaço para a entrada de maquinário pesado dentro do território" o que garante aos invasores o poderio "de aumentar, entre dez e quinze vezes, o potencial destrutivo do garimpo ilegal".

"Nós lideranças estamos avisando vocês. Nós precisamos avisar a Polícia Federal urgentemente e com a Funai para retirar os garimpeiros de lá. Se demorar, nossas casas vão ser destruídas. As crianças estão com medo e fugindo. Por isso nós, os pais deles, estamos preocupados. Porque eles não conhecem as escavadeiras que chegaram aqui no Alto Catrimani. A gente não sabia que elas chegavam até aqui na região. Estão precisando de vocês para vocês verem", cita outro trecho do pedido de socorro enviado pelos indígenas ameaçados pela rota do crime.

A descoberta da estrada foi confirmada durante a operação Guardiões do Bioma, deflagrada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para combater a ação de criminosos na Amazônia. A fiscalização tem apoio da Polícia Federal.

O Fantástico, à convite do Greenpeace, acompanhou o sobrevoo que flagrou a existência da estrada. Do alto, foram registradas imagens dos longos trechos da estrada entrecortada por entre as árvores.

Com cerca de 10 milhões de hectares distribuídos no Amazonas e em Roraima, onde fica a maior parte, a Terra Yanomami é a maior reserva indígena do Brasil.

Geograficamente, é um território de difícil acesso onde vivem quase 30 mil indígenas - ameaçados pela presença de 20 mil garimpeiros que exploram e degradam a floresta em busca de minérios como o ouro e a cassiterita.

No sobrevoo foram flagradas uma das inúmeras consequências da estrada: três retroescavadeiras em plena atividade, a serviço do garimpo na região do Rio Catrimani, um dos mais poluídos por mercúrio dentro da reserva. Essas e uma outra máquina pesada foram destruídas pelo Ibama.

De acordo com o Greenpeace, a chegada de retroescavadeiras, maquinário nunca antes visto no território Yanomami, deixa a crise humanitária ainda mais grave.

"As máquinas pesadas que hoje entram naquela área servem não só para potencializar a exploração de ouro e cassiterita, mas também facilitam a construção de estruturas que facilitam o crime ambiental, como postos de abastecimento, acampamentos e outras estradas", explicou.

A estrada fica a cerca de 15 quilômetros da comunidade isolada do povo Moxihatëtëa. Eles chegaram a ser dados como extintos nos anos 90, mas em 1995 um relato da Funai de que dois garimpeiros foram flechados por eles, mostrou que o grupo ainda vivia.

Eles vivem em total isolamento, sem contato com outros indígenas ou não indígenas, e sobrevivem exclusivamente do que cultivam e caçam na floresta. Apesar de não terem contato com os demais Yanomami, os Moxihatëtëa são considerados um subgrupo da mesma etnia, porque possuem o mesmo tronco linguístico, segundo a Hutukara.

A existência do grupo foi confirmada em um sobrevoo em meados de 2006. As primeiras fotografias da comunidade foram divulgadas em novembro de 2016, após um sobrevoo na região realizado pela Funai. Aproximadamente 15 indígenas foram vistos na ocasião.

A partir dali, a Funai passou a monitorar este povo. Hoje, a maior ameaça aos Moxihatëtëma é a proximidade com os garimpos ilegais.

A reserva vive a pior devastação da história. Entre os anos de 2016 a 2020, exploração ilegal dentro da reserva avançou 3.350%, segundo o relatório "Yanomami sob ataque", divulgado em abril deste ano pela Hutukara Associação Yanomami, a mais representativa organização desse povo.

O estudo revelou que ao menos 56% da população Yanomami sofre algum impacto causado pelo garimpo. Entre os problemas, a saúde é a principal mazela. A exploração ilegal de minérios está diretamente ligada ao casos de malária e desnutrição severa que assola o povo Yanomami. Ano passado, o Fantástico revelou cenas dramáticas do abandono nas comunidades rodeadas por garimpos ilegais.

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