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Indígenas deixam "rastro de sangue" em protesto do ATL contra o genocídio

Amazônia Real amazoniareal.com.br
Autor: Fábio Zuker
26 de Abr de 2018

Em protesto no entorno da Esplanada dos Ministérios, como parte da mobilização do 15o. Acampamento Terra Livre (ATL) desta quinta-feira (26), homens da Cavalaria da Polícia Militar do Distrito Federal impediram o acesso dos indígenas ao gramado do conjunto de prédios do Eixo Monumental, que daria entrada para o Congresso Nacional. Na rua, foi hasteada uma grande faixa em frente ao Ministério da Justiça, com as frases "Chega de genocídio indígena - Demarcação Já!" em alusão às decisões do governo do presidente Michel Temer, que paralisaram a regularização das terras desde maio de 2016. Os indígenas também despejaram tinta vermelha representando o sangue dos mortos nos conflitos agrários, que ocorrem na luta pelas demarcações.

O ministro da Justiça, Torquato Jardim não estava no prédio, pois se encontra em viagem a Paris. A manifestação ocorreu pacificamente, apesar da presença ostensiva das forças policiais durante o protesto, que reuniu mais de três mil indígenas de todo o país.

"Este rastro de 'sangue' é um marco que deixamos aqui na Esplanada e representa toda a violência imposta pelo Estado aos povos originários deste país na morosidade da demarcação das nossas terras, dentre outros ataques. Diversos assassinatos têm ocorrido país afora, além de um cruel processo de criminalização das lideranças. Mas apesar desta conjuntura tão emblemática, nós, povos indígenas, vamos sempre resistir e lutar pelos nossos direitos, como aprendemos com nossos ancestrais e nossos guerreiros", afirmou o cacique Marcos Xukuru, de Pernambuco, no site do MNI.

Organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e contando com as presenças de mais de cem povos de todo o Brasil, o protesto do ATL contou com a participação de Sonia Guajajara, pré-candidata à Presidência da República na chapa de Guilherme Boulos do PSOL. Ela disse que a manifestação marca a oposição dos povos indígenas contra as medidas do governo.

"Mais uma vez, nós aqui em Brasília, reunindo os povos indígenas de todo o Brasil, de todas as regiões, estamos aqui para marcar presença e marcar posição. Dessa vez deixamos aqui registrado a marca de sangue que representa o genocídio contra os povos indígenas", disse Sonia.

A principal demanda dos povos indígenas é a revogação urgente da Portaria 001/2017, da Advocacia Geral da União (AGU), que restringe as demarcações de Terras Indígenas em todo o país.

Para Imberê, do povo Guarani Mbya do Rio Grande do Sul, o governo não respeita dos indígenas. "Viemos aqui para mostrar que continuamos vivos, por mais que não nos queiram. Já sabíamos que não íamos ser recebidos [por nenhuma autoridade do Ministério da Justiça], mas viemos mesmo assim, para mostrar para esse Estado que ele não nos representa."

Alvo de inúmeros projetos de hidrelétricas que ameaçam as terras do povo Munduruku, no Alto e Médio Rio Tapajós, no Pará, Alessandra Munduruku disse que a presença dos parentes da terra Sawré Muybu na manifestação foi para marcar luta "por nossos direitos."

Sobre a presença ostensiva de policiais no entorno na Esplanada dos Ministérios, ela lembrou de que Força Nacional de Segurança continua intervindo para proteger as usinas hidrelétricas de Teles Pires, no Mato Grosso, das quais as obras destruíram os Lugares Sagrados. "O povo Munduruku já não pode fazer seu ritual, pois a construção da hidrelétrica matou a mãe dos peixes."

Durante a dispersão do protesto, a cavalaria da Polícia Militar do Distrito Federal reprimiu outra manifestação de jovens estudantes na Esplanada dos Ministérios. Alguns indígenas se viram envoltos na correria, como foi o caso da cantora e jornalista Djuena Tikuna, representante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Ninguém ficou ferido.

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