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Indígena segue em estado grave após ataque em Jenipapo dos Vieiras, no MA

G1 - https://g1.globo.com
Autor: Rafael Cardoso
08 de Dez de 2019

Nico Alfredo Guajajara foi submetido a uma cirurgia após ser alvo de tiros. Outro indígena deve receber alta após ser baleado na perna. PF ainda não identificou autores do ataque.

O indígena Nico Alfredo Guajajara segue em estado grave após ser alvo de tiros durante um ataque na BR-226 em Jenipapo dos Vieiras, a 350 km de São Luís. Ele deu entrada no Hospital Macrorregional de Presidente Dutra na noite de sábado (7), onde foi submetido a uma laparotomia exploratória e à correção de lesões na bexiga e intestino. Nico segue internado e sem previsão de alta.

Já o outro líder indígena, Nelsi Guajajara, foi encaminhado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Barra do Corda, corresponde bem ao tratamento e está com previsão de alta hospitalar ainda neste domingo (8). Ele recebeu um tiro na perna e conta em um vídeo (veja abaixo) que foi surpreendido por um veículo de cor branca que disparou diversas vezes contra a motocicleta onde ele e Firmino Guajajara estavam.

Firmino Guajajara morreu durante o ataque, junto com Raimundo Bernice Guajajara. Os corpos devem ser liberados pelo Instituto Médico Legal nesta segunda (9) para velório e enterro.

Para a Funai, o ataque ocorreu logo depois dos índios saírem da aldeia Coquinho, onde lideranças de várias aldeias se reuniam com representantes da Eletronorte para tratar da compensação aos índios pela passagem do linhão de energia elétrica dentro das terras indígenas.

Antes da Polícia Federal chegar ao local, as polícias Civil e Militar fizeram buscas pela área e regiões próximas, mas até o momento ninguém foi preso.

A Polícia Civil do Maranhão começou a repassar para a Polícia Federal o material levantado no local do atentado. Segundo o superintendente de Polícia Civil do Interior (SPCI), Guilherme Campelo, uma equipe da PF já está trabalhando no caso.

"Realizamos os primeiros levantamentos e requisição de perícia, bem como apreensão de uma motocicleta, que estava em um dos locais de crime com um projétil alojado nela e foi recolhida para perícia. Produzimos um relatório e repassamos à PF, que já chegou em Barra do Corda com uma equipe", disse Guilherme Campelo.

Além da Polícia Federal, a Força Nacional pode ser encaminhada para a região, de acordo com o que divulgou em uma rede social o ministro da Justiça, Sérgio Moro. Para Guaraci Mendes, coordenador da Fundação Nacional do Índio em Imperatriz (Funai), o crime pode ter relação com os constantes assaltos registrados no trecho da BR-226.

"Pessoas mal intencionadas se aproveitam da má preservação da BR dentro do território (indígena) para cometer ilícitos. Aproveitam também a falta de policiamento. Então isso (assaltos) acaba se associando à imagem dos indígenas, e por conta disso eles (índios) vinham recebendo ameaças", disse Guaraci Mendes.

Repercussão

A líder indígena Sônia Guajajara se manifestou sobre o atentado e se solidarizou com os familiares das vítimas.

"É com profundo pesar e indignação que externo meus mais sinceros e profundos sentimentos aos familiares de Firmino Silvino Prexede Guajajara e Raimundo Guajajara que, neste momento, sentem a dor e a tristeza de perderem pessoas queridas por tamanha brutalidade que hoje fez novas vítimas dentre o Povo Guajajara" (veja vídeo abaixo de Sônia Guajajara)

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), se manifestou por meio de uma rede social e disse que as forças estaduais vão auxiliar as autoridades federais no caso. Neste domingo (8), disse ainda que os secretários de Segurança Pública e de Direitos Humanos já estão na região.

"Minha solidariedade às vítimas de violência contra povos indígenas. As equipes estaduais de segurança estão colaborando com as autoridades federais competentes para questões indígenas. Policiais civis já em atuação", escreveu o governador.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB no Maranhão, Rafael Silva, diz que o órgão está preocupado com o ataque que aconteceu um mês após o assassinato do líder indígena Paulo Paulino Guajajara.

"O que nos preocupa é que nós temos políticas públicas a nível federal que são tomadas que estão agravando essa situação de vulnerabilidade da existência dos povos indígenas e da permanência em suas terras. Quando o estado passa a ser um espaço de ameaça aos povos indígenas então estamos diante de uma situação que chega perto do terror. É uma situação grave e que não pode ficar apenas na esfera estadual. É necessário que a Polícia Federal atue de uma forma contundente, estamos a pouco mais de um mês de outro assassinato brutal e esse também há, evidentemente indícios que seja um crime de encomenda", disse Rafael Silva.

Índios protestam

Em protesto, os índios Guajajaras fizeram um bloqueio na BR-226 em Jenipapo dos Vieiras. De acordo com passageiros de um ônibus que trafegava pela região, os índios teriam jogado pedras nas janelas dos ônibus.

Com medo de novos ataques, muitos motoristas estão parando no BR-226 e traçando novas rotas para conseguir chegar aos seus destinos. De acordo com a Polícia Militar, a situação no local ficou tensa e policiais foram para região para tentar conter a manifestação

Outros ataques

Há um mês, o líder indígena Paulo Paulino Guajajara foi morto durante uma emboscada na Terra Indígena Araribóia, na região de Bom Jesus das Selvas no Maranhão. O conflito também causou a morte do madeireiro Márcio Greykue Moreira Pereira e deixou ferido o primo de Paulo Guajajara, Laércio Guajajara. A Polícia Federal diz que investiga esse caso também, mas até o momento nenhum suspeito foi preso.

Paulo Paulino Guajajara era membro dos 'Guardiões da Floresta', um grupo de índios que vigia, protege e denuncia madeireiros com o intuito de proteger a natureza. Os conflitos entre madeireiros e indígenas já haviam sido denunciados às autoridades, e as ameaças aumentaram após a apreensão de veículos utilizados na extração ilegal de madeiras em terras indígenas no Maranhão.

O índio Paulo Paulino Guajajara estava incluído no Programa Estadual de Proteção aos Defensores de Direitos (PPDDH). Após o crime, outros três guardiões também estavam incluídos no programa, foram retirados das aldeias e levados para lugares sigilosos. O retorno deles para as aldeias depende do fim das ameças.

De acordo com a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), de 2016 a 2019, 13 indígenas foram mortos em decorrência do conflito com madeireiros no Maranhão. O assessor jurídico e membro da SMDH, Antônio Pedrosa, afirmou que nenhuma das pessoas envolvidas nos casos foi identificado ou levado a julgamento.

https://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2019/12/08/indigena-segue-em-e…

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