VOLTAR

Imagens de satélite da Planet revelam incêndios devastadores na Amazônia em tempo quase real

Mongabay - http://news.mongabay.com/
Autor: por Rhett A. Butler
26 de Ago de 2019

Imagens de satélite da Planet revelam incêndios devastadores na Amazônia em tempo quase real

Embora muitas das imagens que estão sendo compartilhadas nas redes sociais e em sites de notícias sejam de incêndios ocorridos em anos anteriores, satélites conseguem mostrar em tempo quase real o que está acontecendo na Amazônia.

Com sobrevoos quase diários e imagens de alta resolução, a constelação de satélites da Planet proporciona uma visão clara de alguns dos incêndios que estão ocorrendo na Amazônia brasileira.

Além dos cliques impressionantes, as imagens também fornecem dados que podem conter informações fundamentais para entender o que está acontecendo na Bacia Amazônica.

Imagens de alta resolução da empresa de satélites Planet estão revelando alguns dos incêndios que estão devastando a floresta amazônica atualmente.

Embora muitas das imagens que estão sendo compartilhadas nas redes sociais e em sites de notícias sejam de incêndios ocorridos em anos anteriores (alguns de até 15 anos atrás), os satélites conseguem mostrar em tempo quase real o que está acontecendo na Amazônia. Com sobrevoos quase diários e imagens de alta resolução, a constelação de satélites da Planet proporciona uma visão clara de alguns dos incêndios que estão ocorrendo na Amazônia brasileira.

Além dos cliques impressionantes, as imagens também fornecem dados que podem conter informações fundamentais para entender o que está acontecendo na Bacia Amazônica, de acordo com Greg Asner, diretor do Centro de Ciências da Conservação e Descoberta Global da Universidade do Estado do Arizona, Estados Unidos, cuja equipe está usando os dados da Planet para avaliar o impacto dos incêndios nas emissões de carbono.

"Os dados da Planet fornecem detalhes sem precedentes sobre o mapeamento das mudanças que estão ocorrendo na floresta, até mesmo sobre cada uma das árvores, o que nos permite avaliar os dados provocados por esses tipos de distúrbios em larga escala", contou Greg ao Mongabay. "Nosso Programa de Incubação da Planet (Planet Incubator Program) está atualmente rastreando as emissões de carbono das florestas de todo o mundo (incluindo a Amazônia) com imagens dos satélites Dove e SkySat da Planet.

"Se pegássemos todo o carbono armazenado em cada floresta tropical da Terra e o queimássemos, emitiríamos cerca de cinco vezes o dióxido de carbono que já está na atmosfera. A floresta tropical amazônica representa aproximadamente metade desse carbono, para termos uma ideia do quão grave é esta situação e do tipo de impacto que ela terá na mudança climática."

A Planet não comenta o que as imagens mostram especificamente, mas há fortes indícios de outras fontes de que as queimadas estão ocorrendo próximo de áreas recém-desmatadas. Um estudo divulgado esta semana pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM Amazônia) mostra que 10 municípios do estado do Amazonas que tiveram os maiores focos de incêndios florestais este ano também foram os que tiveram as maiores taxas de desmatamento.

"Estes municípios são responsáveis por 37% dos focos de calor em 2019 e por 43% do desmatamento registrado até o mês de julho", informa o relatório do IPAM. "Esta concentração de incêndios florestais em áreas recém-desmatadas e com estiagem branda representa um forte indicativo do caráter intencional dos incêndios."

Em outras palavras: os incêndios estão sendo provocados para limpar áreas recém-desmatadas para agricultura (muito provavelmente para pastagem), o que representa de 70% a 80% da conversão da floresta amazônica. Geralmente, o que os fazendeiros fazem é cortar e remover as madeiras das árvores antes de derrubar e queimar as árvores remanescentes. As cinzas fornecem uma fonte temporária de nutrientes para o pasto, mas o solo se degrada rapidamente sem manejo adequado.

Embora, em geral, não ocorram incêndios de forma natural na floresta tropical primária da Amazônia fora dos períodos de seca e dos anos em que há o fenômeno El Niño, incêndios provocados intencionalmente em florestas degradadas e terrenos agrícolas podem se alastrar para florestas antes intocadas. Este parece ser o caso este ano, cuja estiagem está branda, como observou o IPAM.

Porém, esta situação pode mudar logo. E para pior.

Com os modelos climáticos prevendo que a Amazônia ficará cada vez mais quente devido ao aumento das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera, um número cada vez maior de cientistas está alertando para o fato de que a combinação entre desmatamento contínuo e mudança climática pode transformar a floresta tropical amazônica em um ecossistema muito mais seco, análogo à savana. Como as árvores da Amazônia geram boa parte da precipitação da região, uma mudança dessas poderia ser devastadora para as fontes de abastecimento de água da área. Prevê-se que o coração agrícola da América do Sul seja particularmente afetado pela escassez de água, mas a diminuição das chuvas também afetaria o abastecimento de energia das cidades, que são altamente dependentes de energia hidrelétrica. Além disso, o clima mais seco também intensificaria os incêndios e o risco de poluição do ar.

Incêndios e desmatamento em alta em 2019
O desmatamento na Amazônia brasileira tem aumentado desde a queda em 2012, com 4.571 quilômetros quadrados desmatados, mas o problema só chamou a atenção do público esta semana, quando o céu de São Paulo, uma das maiores cidades do mundo, escureceu no meio do dia com a fumaça dos incêndios. A escuridão inesperada provocou uma enxurrada de manifestações de preocupação nas redes sociais, gerando mais de 300.000 tweets com a hashtag #PrayforAmazonas em dois dias.

Porém, embora os incêndios na Amazônia tenham de fato aumentado significativamente no último ano, eles não estão muito acima da média em relação aos últimos 20 anos.

A diferença este ano é que as condições climáticas fizeram com que a fumaça dos incêndios cobrisse áreas urbanas densamente povoadas. Um fenômeno semelhante está ocorrendo no Sudeste Asiático: os incêndios nas turfas da Indonésia chamam mais atenção quando o vento sopra a neblina sobre Cingapura, o centro financeiro da região, como foi o caso em 2015.

Entretanto, para os ambientalistas preocupados com a retórica antiambientalista do presidente Jair Bolsonaro, as condições armagedônicas em São Paulo e o aumento acentuado do desmatamento parecem ser o pior cenário para a Amazônia.

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), as perdas da maior floresta tropical do mundo já aumentaram 57% em relação ao ano passado. E a região ainda está na metade da temporada de queimadas, que vai de maio a outubro. Espera-se que os dados do Imazon, ONG que rastreia o desmatamento na Amazônia de forma independente, confirmem essa tendência quando os números mais recentes forem anunciados na próxima semana.

Irritado com as críticas sobre o crescente desmatamento, Bolsonaro afirmou que o INPE está manipulando dados sobre o desmatamento e demitiu o diretor do instituto. O INPE não divulgou nenhuma atualização dos desmatamentos desde os incêndios. Bolsonaro também alegou, sem provas, que ONGs seriam as responsáveis pelos incêndios devido ao corte do repasse de verba, embora tenha voltado atrás nessas alegações hoje.

Entretanto, o presidente não conseguiu refutar os dados de satélites de agências como a Planet e a NASA. Os cientistas e a sociedade civil estão agora debruçados sobre os dados para procurar por indícios que associem as políticas de Bolsonaro (incluindo afrouxamento de leis ambientais, relaxamento no cumprimento das leis e anistia para desmatadores ilegais) ao que está acontecendo na Amazônia.

"Embora a associação entre as políticas do governo brasileiro e esses incêndios florestais ainda seja incerta, os dados inéditos da Planet nos ajudarão a avaliar em que medida essas políticas precisam ser reavaliadas", disse Greg.

Slideshow: Estas imagens da Planet de incêndios na Amazônia foram obtidas em 21 de agosto de 2019 e processadas pelo Centro de Ciências da Conservação e Descoberta Global (CGDCS) da Universidade do Estado do Arizona (ASU). Imagens gentilmente cedidas pela Planet Labs, Inc. e pelo CGDCS.

Nota do autor: Em 23 de agosto, às 17:35 (horário do Pacífico), o gráfico de linha e de barra que mostrava o desmatamento na Amazônia brasileira foi atualizado com dados de julho do Imazon.

https://pt.mongabay.com/2019/08/imagens-de-satelite-da-planet-revelam-i…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.