Diário de Cuiabá-MT
Autor: Rodrigo Vargas
25 de Fev de 2002
Ao contrário do que dizem as lideranças paresi, a idéia do asfaltamento da "Nova Fronteira" não é propriamente uma unanimidade nas aldeias da etnia. Índios ouvidos pela reportagem do Diário garantem que o sentimento da maioria é de apreensão, dúvida.
Até mesmo o recém-empossado presidente da Associação Halitinã, o cacique Acelino Noizukae, da aldeia Salto da Mulher, está desconfiado. Segundo ele, o projeto do asfalto veio "prontinho da mão dos brancos", sendo que aos índios coube a simples tarefa de aceitá-lo ou não.
"Depois que o homem branco se acerta entre ele é que vem procurar o índio, que é sempre o último a ser consultado. Mas quem sobrevive nesta terra somos nós", reclama o cacique, que assumiu a associação há três meses - depois que a ação popular foi ajuizada.
Segundo a índia Lucinda Wakemoizokero, o asfalto aumentará os riscos de invasão da área, já que o território (que tem 200 mil hectares de terras roxas, plenamente agricultáveis) ficará ainda mais valorizado. "Se vier o asfalto, vai ter invasão. No meio da nossa área, tem muita terra boa. Além disso, vai facilitar a entrada de bandidos".
"Se federalizar a estrada, a reserva vai ficar de um lado e do outro. Quando fizeram a BR-364 (no trecho entre Cuiabá e Comodoro), foi a mesma coisa e nós perdemos muita terra", lembra o índio Luiz Zemezukae. "A maioria tem medo é disso: dividir é perder área. Outra coisa é que nós não queremos mais destruição".
O temor da vinda do asfalto é tão grande quanto o da perda dos recursos do pedágio. Além das necessidades emergenciais de remédios e transporte, o dinheiro banca a permanência de muitos jovens nas escolas de Tangará da Serra. "Não dá para viver sem esse pedágio, porque os nossos filhos dependem dele para conseguir emprego", admite Lucinda.
Porém, na encruzilhada em que estão os paresi, qualquer movimento pode significar prejuízo. Segundo revelou uma fonte da Funai em Tangará da Serra, a vinda do asfalto não garante a manutenção do direito de passagem. Aliás, é bem pouco provável que isso ocorra. "Ela seria uma estrada federal como qualquer outra. Os índios não teriam direito algum sobre ela", comentou.
A única alternativa seria uma ação conjunta de prefeituras e produtores rurais que doassem aos índios o recursos necessários para a construção da obra - ignorando o novo trajeto proposto pelo DNER. A "Nova Fronteira" continuaria a ser estrada vicinal de direito, mas rodovia de fato. Resta saber se seus financiadores aceitariam manter o pagamento do pedágio
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