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Ibama pede revisão no Rio Madeira

OESP, Vida, p. A21
04 de Mar de 2006

Ibama pede revisão no Rio Madeira
Órgão solicitou complementos ao estudo de impacto ambiental para construção de duas usinas em Rondônia

Herton Escobar

O estudo de impacto ambiental (EIA) apresentado pela Furnas Centrais Elétricas não foi suficiente para garantir o licenciamento da construção de duas hidrelétricas no Rio Madeira, em Rondônia. Em ofício enviado nesta semana à estatal, o Ibama solicita uma série de complementos e adequações ao projeto, que integra um grande pacote de obras anunciado pelo governo para 2006. "O estudo é muito bom em vários aspectos, mas há questões que precisam ser mais bem avaliadas", disse ao Estado o diretor de Licenciamento do Ibama, Luiz Felippe Kunz.
As usinas de Santo Antônio e Jirau deverão alagar uma área de 529 quilômetros quadrados, para produzir 6.450 megawatts - cerca de metade da energia de Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo. O complexo, orçado em US$ 4,5 bilhões, é considerado uma das maiores obras de infra-estrutura da Amazônia, ao lado do asfaltamento da BR-163 (Cuiabá-Santarém). Organizações ambientalistas, entretanto, questionam a necessidade e a viabilidade do projeto.
As solicitações do Ibama referem-se a questões técnicas e ambientais. O instituto quer estudos mais detalhados sobre o tamanho da área alagada e a vida útil dos reservatórios, sem a necessidade de dragagem, já que o rio carrega grande volume de sedimentos e matéria orgânica (madeira). "À medida que você tem assoreamento e diminuição da profundidade, pode haver um aumento da área alagada", explica Kunz.
Outra preocupação diz respeito à fauna de peixes do Madeira, que é a principal fonte de proteínas para a população de Porto Velho. Segundo Kunz, a biodiversidade aquática não foi devidamente estudada, especialmente as espécies de fundo. "Precisamos saber exatamente o que existe no rio para ter a dimensão exata do impacto."
O órgão também solicitou mais informações sobre a perda de áreas de lazer e turismo (principalmente praias fluviais), o impacto da elevação do lençol freático sobre os ecossistemas de entorno dos reservatórios, a influência sobre o abastecimento de água de Porto Velho (que poderá ser contaminado por mercúrio de garimpos), o impacto sobre atividades agrícolas abaixo das barragens (que dependem do regime de vazantes) e o remanejamento de populações ribeirinhas. A estimativa é de que mais de 2.800 pessoas deverão ser retiradas das áreas alagadas.
Procurada pelo Estado, Furnas informou que recebeu o ofício do Ibama anteontem e que está avaliando as solicitações. A empresa disse que tem quatro meses para complementar os estudos, mas pretende fornecer os dados muito antes disso.
A solicitação de esclarecimentos e dados adicionais é comum no processo de licenciamento. As revisões do Ibama, entretanto, poderão atrasar os planos de alguns setores do governo, que querem ver o projeto aprovado o mais rápido possível. Para que a licença prévia seja emitida, ainda será preciso realizar uma série de audiências públicas nas regiões afetadas.
A principal bandeira ambiental levantada pelos empreendedores é a utilização de barragens menores e turbinas de última geração, do tipo bulbo, que reduzem a área de alagamento. Os reservatórios menores são compensados pela vazão elevada do Rio Madeira, que garante o funcionamento das turbinas. Segundo Furnas, a área inundada será a mesma do rio nos períodos de maior cheia.
Ambientalistas, entretanto, temem os impactos da obra e contestam a necessidade das usinas. "Não vejo como isso pode sair do papel. É uma maluquice", resume Telma Delgado Monteiro, integrante do GT Energia do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais. "Há informações gravíssimas nesse estudo."
IPUEIRAS
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem no lançamento do Plano Nacional de Recursos Hídricos, em Brasília, que foi "convencido" de que o País não precisa construir a hidrelétrica de Ipueiras, no Tocantins (de 480 megawatts). Lula confirmou a avaliação do Ibama, que considerou o projeto inviável do ponto de vista ambiental.

OESP, 04/03/2006, Vida, p. A21

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