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Ibama alerta para risco ambiental de hidrelétrica

O Globo, Rio, p. 13
23 de Set de 2007

Ibama alerta para risco ambiental de hidrelétrica
Órgão teme que obra no Rio Paraíba do Sul altere clima da região, e exige que Furnas faça plano para diminuir danos

Rolland Gianotti e Tulio Brandão

Os pareceres técnicos do Ibama sobre o Complexo Hidrelétrico de Simplício trazem alertas para graves impactos e riscos ambientais do empreendimento, que vai redesenhar a Bacia do Paraíba do Sul, a principal do estado. Por conta das ameaças, o Ibama determinou que Furnas, que toca o projeto, desenvolva planos de diminuição de danos e de monitoramento de diversos parâmetros na região. Como reportagem do GLOBO mostrou ontem, a construção de Simplício - que contribuirá, a partir de 2011, com 5% da produção de energia do estado -, além de desviar o curso original do rio, inundará áreas onde vivem 1.100 moradores.

Uma das preocupações demonstradas pelo Ibama é a ameaça de alteração no clima nas proximidades da barragem de Anta. Os técnicos acreditam que a maior disponibilidade da água poderá resultar num aumento da evaporação e da umidade relativa. Segundo o documento, há o risco de a mudança influenciar na produção agrícola da região.

Para avaliar as alterações, Furnas vai instalar uma estação de monitoramento climático na região. O Ibama alerta ainda para os problemas com a preservação da biodiversidade ainda existente. Das 166 espécies de peixes do Paraíba, 16 já estão ameaçadas de extinção - 11 delas na área direta do empreendimento. Foram identificadas ainda, na região impactada, 19 espécies de anfíbios, 120 de aves e 20 de mamíferos - algumas também ameaçadas de desaparecimento. A vegetação de Mata Atlântica remanescente cobre 8% da área total atingida. No último parecer, o Ibama alerta para falhas no levantamento da fauna na região.

Outro risco, segundo o órgão, é o de a barragem de Anta sofrer com florações de cianobactérias tóxicas, que provocam sérios danos à saúde humana. O fenômeno já foi observado na represa do Funil, em Resende, que recebe toda a poluição vinda do trecho paulista do Paraíba. A barragem de Anta acumulará a contaminação proveniente de cidades que poluem bastante o rio, como Volta Redonda, Barra Mansa e Barra do Piraí.

Para a população, aumenta o risco de doenças
Para a população da região, aumentam os riscos de doenças de veiculação hídrica, já que a área sofre com o alto índice de contaminação por coliformes fecais do Paraíba. Os municípios que captam água no trecho do rio que terá vazão reduzida, com a mudança de curso, tendem a sofrer mais. Por isso, uma das compensações previstas na licença é a construção de estações de tratamento de esgoto nessas cidades.

O diretor de licenciamento do Ibama, Roberto Messias, garante que o órgão teve um prazo adequado para licenciar o projeto da hidrelétrica.

- Com muita tranqüilidade, posso dizer que tivemos tempo. Quando os dados vêm redondos, sai ainda mais rápido. Nesse caso, houve a necessidade de complementação das informações. Na verdade, é um empreendimento complexo. O processo tecnológico empregado na usina tinha novidades. Além disso, a Bacia do Paraíba está muito ocupada e degradada - disse ele.

Coordenadora de Meio Ambiente do empreendimento, Sandra Martins Verboonen diz que as orientações do Ibama estão sendo atendidas, embora ela não veja grandes perdas ambientais.

Segundo Sandra, a fauna e a flora da área já estavam bastante degradadas. Ainda assim, ela ressalta, Furnas terá um total de 38 ações ambientais ao longo do Complexo de Simplício. Entre as que estão em andamento, destaca Sandra, está o recolhimento de sementes e frutos que serão usados no reflorestamento da região e o resgate e libertação em locais seguros de animais que habitam os locais que serão inundados.

O Globo, 23/09/2007, Rio, p. 13

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