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Hora da verdade

O Globo, Opinião, p. 6
24 de Dez de 2009

Hora da verdade

É grande a decepção com a Conferência sobre o Clima, em Copenhague. De fato, pelo que se sabe concretamente sobre as condições de vida do nosso planeta, já estaria na hora de tomar providências drásticas, de concordar com metas bem definidas de combate ao aquecimento global.

Ao mesmo tempo, pode-se imaginar como é difícil tomar decisões num quadro de mais de cem países que vivem realidades diferentes do ponto de vista histórico ou socioeconômico.

China e Índia, por exemplo, se se apresentam como potências tendo em vista seu dinamismo, sua massa geográfica e populacional, carregam um terrível handicap quando se fala em renda per capita. São países que hesitam na hora de renunciar aos benefícios do desenvolvimento, que eles começam a colher.

Os Estados Unidos estão na outra ponta do sistema - o país mais rico e mais moderno do mundo; mas assolado por uma crise que é econômica, política e moral, e da qual não se vê saída a curto prazo. Seria difícil exagerar o peso das responsabilidades que, neste momento, pesam sobre os ombros do presidente Obama.

Isso não quer dizer que um acordo seja impossível; mas ele terá de ser trabalhado num nível de complexidade até agora desconhecido da espécie humana.

Porque não se trata mais de problemas particulares, ou localizados, e sim da própria sorte do planeta.

O espírito do Natal não é imune a esse quadro. Para além de todas as explorações comerciais, e a aflição de dar presentes, de fechar o ano num espírito de congraçamento, de boa vontade, a mensagem do Natal é uma mensagem de despojamento; e talvez por isso ela fale às nossas profundezas. À parte o fato de se pertencer (ou não) a esta ou àquela confissão religiosa, o fundo da história é universal, como uma ideiaforça que se recusa a morrer: a de uma figura divina que não só toma forma humana, como se apresenta num contexto de pobreza absoluta, reduzida ao mínimo indispensável. São processos mentais com que teremos de nos acostumar de novo, à medida que abandonamos para sempre a confortável ideia de um progresso indefinido.

O Globo, 24/12/2009, Opinião, p. 6

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