VOLTAR

Há risco de colapso, diz comitê de bacia

GM, Saneamento & Meio Ambiente, p. A7
02 de Fev de 2004

Há risco de colapso, diz comitê de bacia

Vai faltar água nos próximos meses na Grande São Paulo. Esse é o alerta dado pela Agência da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, braço executivo do comitê da bacia, na tarde da última sexta-feira. A agência chama a atenção para o risco de colapso no abastecimento de água na região metropolitana de São Paulo, devido à seriedade da situação em que se encontra o sistema Cantareira, que abastece 47% dos habitantes da região metropolitana. De acordo com Júlio Cerqueira César Neto, diretor presidente da agência, só um improvável "dilúvio" eliminaria o risco de déficit no abastecimento no segundo semestre de 2004. "Chegamos à metade da estação chuvosa com índices pluviométricos inferiores às medias históricas do período. A situação é grave e a população não está sendo informada da maneira que deveria", afirma.

De acordo com dados do comitê, durante este mês de janeiro o sistema Cantareira transferiu para a região metropolitana vazões ainda menores do que os habituais 33 m³/s. Essas vazões oscilaram entre 17 m³/s e 32 m³/s, encerrando uma média de 28 m³/s, ou 5 m³/s a menos do que seriam necessários. "Na prática, o racionamento já ocorre, pois o Cantareira está produzindo menos água para o abastecimento", diz o diretor.

Para a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), não é isso o que está acontecendo. "Os 5 m³/s de água que não estão sendo fornecidos pelo Cantareira estão sendo substituídos pelos sistemas Guarapiranga e Alto Tietê, de modo que os 33 m³/s estão assegurados", afirma Ricardo Araújo, assessor da diretoria de produção e tecnologia da Sabesp.

Segundo a Agência, o reservatório Jaguari/Jacareí, que produz em torno de 21 m³/s, 61% da água que abastece o sistema Cantareira, já ultrapassou a capacidade mínima operacional em 6,03%. Os demais reservatórios, Cachoeira e Atibainha, estão em situação menos crítica, mas juntos não fornecem água em quantidade suficiente para a manutenção do abastecimento nas áreas atendidas pelo sistema Cantareira. "A recuperação desses reservatórios nesta estação chuvosa é praticamente impossível", diz César Neto.

Barragens

O sistema Cantareira hoje opera com 4% de sua capacidade, e não há previsões de novos aportes de água a curtíssimo prazo. A perpectiva seria a expansão do sistema produtor do Alto Tietê, com a operação das barragens de Paraitinga e Biritiba, em fase de construção pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE). Em operação, essas barragens devem garantir 4 m³/s a mais para o sistema Cantareira a partir de 2005. No entanto as obras, embora licenciadas pelo órgão ambiental estadual, encontram-se embargadas pelo Ministério Público Federal, sob alegação de que as barragens prejudicariam a fauna das regiões no entorno. Na semana passada, o Ministério Público entrou com um pedido noConselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) para que fosse feita uma revisão da licença ambiental da obra. O pedido foi negado, e agora o DAEE tenta revogar a decisão do Ministério Público. "Essa ação não tem funda-mento técnico, pois foram feitos e aprovados o estudo e relatório de impacto ambiental (EIA/RIMA) do empreendimento. Ela acarreta um enorme prejuízo para a Grande São Paulo", diz Araújo, da Sabesp. Segundo ele, uma vez desembargados, os reservatórios de Paraitinga e Biritiba teriam que passar por uma curta fase de complementação de obras e já poderiam ser cheios ainda neste primeiro semestre de 2004.

Nos próximos dez dias, a Agência do Comitê do Alto Tietê deverá divulgar os resultados da simulação de situações do abastecimento para os próximos meses, a partir de modelos matemáticos que estão sendo feitos pelos técnicos do comitê. "Os números darão a noção exata do grau de seriedade da situação. Enquanto isso, pedimos à população que efetivamente economize água", diz César Neto.

kicker: Sabesp espera que se resolva o impasse das barragens de Paraitinga e Biritiba

GM, 02/02/2004, Saneamento & Meio Ambiente, p. A7

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.