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Guarulhos terá rodízio, após Sabesp cortar água

OESP, Metrópole, p. A17
14 de Mar de 2014

Guarulhos terá rodízio, após Sabesp cortar água
Parte da área abastecida pelo Sistema Cantareira terá racionamento dia sim e dia não; Estado alega que cidade só economizou 2% desde fevereiro

Herton Escobar

Cerca de 850 mil pessoas serão afetadas pela redução do volume de água fornecido pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) a Guarulhos, que terá de implementar um sistema de racionamento em grande parte da cidade. O corte da Sabesp foi adiantado nesta quinta-feira, 13, pelo Estado.
O anúncio do racionamento oficial na segunda maior cidade do Estado foi feito ontem pelo diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Guarulhos, Afrânio de Paula Sobrinho. Segundo ele, as regiões da cidade que são abastecidas com água do Sistema Cantareira serão divididas em seis blocos. Dois receberão água dia sim, dia não; enquanto as demais ficarão um dia sem água a cada três. Os nomes dos bairros afetados e a agenda do rodízio serão anunciados nos próximos dias.
O fornecimento de água do Sistema Cantareira para o município será reduzido pela Sabesp em 15,5%, gradativamente, até segunda-feira, conforme anunciado ontem - Guarulhos compra água no atacado, por cerca de R$ 100 milhões ao ano. O volume fornecido será reduzido dos atuais 4 mil litros por segundo para 3.610 litros por segundo. "Vamos ter de dividir essa água que sobrou", disse Sobrinho. Cerca de 62% da população de Guarulhos (de aproximadamente 1,4 milhão de pessoas) é abastecida pelo Cantareira.
Sobrinho criticou duramente Sabesp e governo do Estado. Ele disse que só foi informado do corte na terça-feira (11) à tarde, e questionou o fato de Guarulhos ser o único município penalizado. "Não sou contra a medida; só estou defendendo que ela seja estendida a todos", disse.
Em nota oficial, a Sabesp compara Guarulhos a São Caetano do Sul (duas cidades da Grande São Paulo que compram água no atacado), dizendo que a segunda conseguiu reduzir seu consumo em 100 litros por segundo (de 550 para 460 l/s; uma economia de 18%) desde o início de fevereiro - e por isso seu fornecimento de água não seria alterado. Enquanto isso, Guarulhos teria reduzido seu consumo em apenas 2%.
"Comparar São Caetano a Guarulhos, com todo respeito, é muita falta de conhecimento sobre duas realidades totalmente distintas", rebateu o diretor do Saae, ressaltando que São Caetano do Sul tem 150 mil habitantes (cerca de 10% da população de Guarulhos) "e não tem favela". Sobrinho disse ainda que está na hora de o governo do Estado ser transparente com a população e parar de dizer que não há racionamento de água. "Se não há racionamento, que nome você dá ao que está acontecendo aqui em Guarulhos?"

Em queda
O índice que mede o volume de água armazenado no Sistema Cantareira registrou novo recorde negativo ontem, atingindo apenas 15,6% da capacidade.

'Em português, isso significa racionamento'

Ricardo Brandt/ CAMPINAS

A redução no fornecimento de água por parte da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para a cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo, é considerada racionamento e pode ser contestada legalmente pelas prefeitura do município afetado.
A opinião é do professor Paulo Affonso Leme Machado, especialista em direto ambiental e de recursos hídricos. "Evidentemente quando você deixa de fornecer água, e aí no caso é contratual, é claro que você está estabelecendo uma diminuição, que em português significa racionar. Racionamento."
Em entrevista ao Estado, o especialista afirmou que os municípios que forem afetados, por meio de suas procuradorias, podem acionar na Justiça a Sabesp por tratamento desigual. "Não tenho a pretensão de dizer o que eles têm de fazer, mas acredito que eles podem fazer é bater às portas da Justiça."

Equidade.

Para Paulo Affonso, o argumento jurídico possível é o desrespeito ao princípio de equidade, usando a Constituição Federal e a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9433/97). Pelo princípio, a medida só poderia ser adotada se fosse para todas as cidades.
Ao diminuir o fornecimento de água para Guarulhos, a Sabesp alegou que a medida foi necessária para atender a determinação da Agência Nacional das Águas (ANA) e do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), do Estado, de redução de uso do Sistema Cantareira, pela companhia estadual, para abastecer cidades da Grande São Paulo.

Na zona norte, torneiras secam de madrugada

Marina Azaredo

Embora a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) tenha negado ao Estado na semana passada estar fazendo racionamento de água, moradores de bairros da zona norte da capital e da Região Metropolitana continuam relatando falta de abastecimento durante as madrugadas.
"Nesta semana fiquei todos os dias sem água da meia-noite às 10h. Quero ver até quando isso vai continuar", disse a cabeleireira Ana Souza, moradora da Rua dos Filhos da Terra, no Jaçanã. "Só consigo tomar banho por causa da caixa d'água. E a descarga não enche. Então, de manhã, eu e meu filho temos de usar o banheiro para só depois dar a descarga", relata.
Acerca de 6 quilômetros dali, na Vila Ede, região da Vila Gustavo, a diarista Morgana Cristina Moreira Lopes enfrenta o mesmo problema. "Eu tomo banho nas casas das patroas. Mas meus filhos estão tendo de se virar com balde e uma canequinha. Ainda bem que está calor."
Moradora de Osasco, na Região Metropolitana, a zeladora Kátia Simões teme perder eletrodomésticos. "Se eu ligar a máquina de lavar e não tiver água, ela vai 'pifar'. E a Sabesp é que não vai me dar outra", reclama. "Enquanto isso, nos bairros ricos tem gente lavando a calçada com mangueira."
Procurada pela reportagem, a Sabesp alegou não ter tempo hábil para enviar técnicos aos endereços citados e verificar o que acontecia. Na semana passada, quando o Estado revelou os problemas no abastecimento, quatro endereços foram enviados para que a companhia verificasse o porquê da falta d'água e até hoje não houve resposta. /Colaborou Fabiana Cambricol

OESP, 14/03/2014, Metrópole, p. A17

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