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Grande SP vai pagar pela água

OESP, Metrópole, p. C1
01 de Mai de 2007

Grande SP vai pagar pela água
Hoje consumidor só banca custo das empresas com captação, tratamento e distribuição; conta deve subir até 2%

Eduardo Reina

No prazo de um ano, os 17,5 milhões de habitantes da Grande São Paulo começarão a pagar pela água que consomem. Hoje eles bancam só o custo de captação, tratamento e distribuição de empresas como a Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp), não pela água em si. Com a mudança, a tarifa deverá subir 2%, segundo o Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Levando em conta as 6,6 milhões de ligações de água e as 5 milhões de ligações de esgoto da Sabesp nos 367 municípios atendidos pela empresa, seriam arrecadados R$ 10,2 milhões por mês. Isso sem falar de cidades atendidas por autarquias e companhias municipais.

Hoje o consumidor comum já paga nas bacias do Rio Paraíba do Sul e do Rio Piracicaba. Os próximos afetados pela medida devem ser, segundo a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, os consumidores da Grande São Paulo, abastecidos pelo Alto Tietê, bacia que produz 70 metros cúbicos por segundo. Até dezembro de 2010, a cobrança atingirá 14 das 21 bacias hidrográficas do Estado.

Antes de a cobrança começar, o governo do Estado precisa cumprir duas etapas: sancionar, até 29 de dezembro, leis que determinam limites da área de proteção e projetos de recuperação de mananciais; e garantir que os comitês de bacias finalizem planos de cobrança, definidos em comum acordo com os consumidores. O governo já sancionou a lei de proteção da Guarapiranga, em 22 de março. A Billings teve a minuta do projeto concluída na semana passada e o texto aguarda parecer da Assembléia.

Vão pagar pelo uso dos recursos hídricos num primeiro momento empresas de abastecimento e saneamento, indústria, comércio e grandes usuários urbanos, como hotéis e shoppings centers, que captam água ou despejam efluentes industriais ou esgoto nas bacias.

"Não se trata de mais um imposto. É como se a bacia fosse um condomínio, que precisa de benfeitorias. E o custo deve ser repartido por todos", explicou Benedito Braga, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA). Braga disse que os valores praticados hoje em São Paulo têm impacto "absolutamente desprezível" no valor da conta. "Mas na medida em que esse valor for aumentado, vai chegar no consumidor", previu. "Uma família de quatro pessoas com consumo diário muito alto, de 250 litros per capita por dia, terá impacto de menos de R$ 1 por mês com a cobrança", acredita Luiz Roberto Moretti, secretário-executivo do comitê da bacia do Piracicaba.

Nas bacias do Paraíba do Sul e do Piracicaba, a tabela de tarifa tem patamares diferenciados para cada tipo de usuário. O menor custo é para quem capta água bruta superficial: R$ 0,01 por metro cúbico. Também há cobrança pelo lançamento de esgoto nos rios: R$ 0,07 por quilo no Paraíba do Sul e R$ 0,10 por quilo no Piracicaba.

Por lei, todo o dinheiro recolhido deve ser aplicado na região onde foi cobrado. Na do Piracicaba, foram arrecadados R$ 14 milhões em 2006. Na do Paraíba do Sul, a receita, contabilizada desde 2003, chega a R$ 23 milhões, verba que tem financiado projetos de tratamento de esgoto e de saneamento em São Paulo, Rio e Minas. "Em São Paulo, há projetos em Guaratinguetá, de controle de erosão na bacia do Ribeirão São Gonçalo e de ampliação do tratamento de água, e construção de sistemas de esgoto em Jacareí e Cachoeira Paulista, entre outros", disse o secretário-executivo do comitê paulista da bacia, Edilson de Paula Andrade.

Nos Jardins, água de lençol freático é desperdiçada
Prédios jogam nas ruas do bairro o líquido que brota nas garagens
Eduardo Reina
O desperdício de água é uma das marcas registradas de São Paulo. Nos Jardins, por exemplo, várias minas localizadas sob prédios vertem água sem parar nas sarjetas. O problema atinge outros bairros e até mesmo obras do Metrô, como a Estação Chácara Klabin, na Vila Mariana, que despeja a água do lençol freático na sarjeta da Rua Vergueiro. A estação foi inaugurada no ano passado sem galeria de captação de água pluvial - obra que o Metrô prometeu concluir.

Há quase dez anos o edifício do número 208 da Alameda Tietê, nos Jardins, zona sul, despeja diariamente 43,2 mil litros na rua. "A cada dez minutos, a bomba joga a água para fora. Fica uns dois minutos jorrando na calçada", disse o zelador José Antonio Martins. Há 60 dias, o condomínio resolveu usar a água para lavar os seis pisos de garagem e também regar o jardim. "A Sabesp colheu água para análise, não sabemos se ela é própria para consumo", afirmou Martins.

No subsolo do edifício, a água verte por algumas paredes e por um ponto no solo. É armazenada em um poço de cerca de 3 metros de profundidade. Quando o poço fica cheio, o produto é bombeado para fora.

A mesma situação ocorre do Edifício Barão de Lorena, na Alameda Lorena, 1.611. Durante a obra da fundação do prédio, o lençol freático foi perfurado, o que fez surgir uma mina d'água no subsolo.

A poucos quarteirões dali, na Alameda Casabranca, 822, o condomínio também despeja a água proveniente de uma mina que apareceu durante a construção do prédio, há 38 anos. Nesse prédio, a bomba funciona a cada 20 minutos. "Vamos fazer a análise da água para ver se pode ser aproveitada", contou Antonio Diniz, zelador do imóvel, de 44 apartamentos. Diniz disse que outros dois prédios nas proximidades, os de número 815 e 791, já utilizam a água, em vez de jogá-la fora.

Segundo o geólogo José Eduardo Campos, da Diretoria de Recursos Hídricos do Departamento e Águas e Energia Elétrica de São Paulo (Daee), nos Jardins, por conta da acentuada declividade do terreno, a fundação dos edifícios penetrou o lençol freático. Isso levou à necessidade de esgotamento para estabilizar as obras na fase de construção e, depois, o despejo contínuo por meio de bombeamento em poços, cisternas e drenos para evitar que as águas invadissem as garagens. Para o Daee, a "prática é comum".

A Assessoria de Imprensa do departamento informou, por meio de nota, que foi realizada a perícia técnica nos endereços dos Jardins citados na reportagem. "O Pólo de Manutenção Lapa retirou amostra da água para análise, que revelou não ser água tratada da Sabesp nem água servida, de esgoto. Os técnicos indicam que o líquido é proveniente de lençol freático do no 1611 da Alameda Lorena, lançado na sarjeta por uma bomba, que acaba afetando o no 208 da Alameda Tietê, porque a rua é em declive. As redes de esgotos estão operando normalmente, mas a galeria de águas pluviais está entupida, trabalho que será feito pela Prefeitura, a quem compete a rotina da limpeza e manutenção."

OESP, 01/05/2007, Metrópole, p. C1

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