VOLTAR

Governo 'esquece' usinas antigas em seus planos

OESP, Economia, p. B6
04 de Mai de 2007

Governo 'esquece' usinas antigas em seus planos
Especialista critica foco nos projetos polêmicos do Rio Madeira. Segundo a Aneel, problemas empacam obras que poderiam gerar 7,3 mil MW

Renée Pereira

Enquanto todas as atenções estão voltadas para a construção das usinas do Rio Madeira, outros projetos que também poderiam salvar o País de um novo racionamento continuam empacados. De acordo com o relatório de fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), hoje há cerca de 7,3 mil MW em usinas licitadas ou autorizadas que têm algum impedimento. Isso sem contar os 3,3 mil MW das unidades do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas (Proinfa), que também estão com obras atrasadas.

'O governo poderia batalhar nesses projetos e teria mais tempo para discutir os problemas do Rio Madeira, que se têm complicado', afirmou o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires.

Segundo ele, deveria haver uma força-tarefa para resolver os problemas de usinas antigas menores, que, juntas, têm potencial de gerar o mesmo que as do Madeira. A hidrelétrica de Jirau terá potência de 3.326 MW e a de Santo Antônio, 3.168 MW. 'Se começar a operar em 2012, o Madeira vai acrescentar uns 500 MW de energia ao sistema no primeiro ano', explicou.

Pires alerta que não se pode jogar todas as fichas nesses projetos, chamados de estruturantes, e correr o risco de ficar sem energia. 'Hoje, um terço do aumento da oferta tem como base três projetos: Rio Madeira, Belo Monte e Nuclear. Todos polêmicos.'

O governo ainda aposta nas usinas do Proinfa, cujas obras também estão atrasadas. De acordo com a Aneel, dos 12 projetos de biomassa, quatro contratos serão rescindidos e três estão com o cronograma normalizado.

'Se houvesse dedicação e uma política melhor de preços, as usinas de biomassa poderiam acrescentar muita energia ao sistema, especialmente com a explosão do mercado de etanol', afirmou Pires.

Em eólica, o problema tem sido a compra de equipamentos, comenta o presidente da Associação Brasileira dos Pequenos e Médios Produtores de Energia Elétrica (APMPE), Ricardo Pigatto. 'Isso porque a legislação exige que 60% dos equipamentos sejam nacionais e praticamente uma única empresa é fornecedora.'

A empresa a que ele se refere é a Wobben, que, afirma que o problema é que as companhias demoraram para fazer os pedidos e, por isso, não há como entregar os equipamentos de um dia para o outro. A empresa tem capacidade para atender a pedidos da ordem de 250 MW por ano. As usinas eólicas acompanhadas pela Aneel somam 1.214 MW.

Entre as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) do Proinfa a situação está mais controlada, embora 14 das 53 usinas ainda estejam com algum impedimento para funcionar ou iniciar a construção. Além das PCHs do Proinfa, o País tem autorizadas e acompanhadas pela Aneel cerca de 203 unidades com capacidade para produzir 2.927 MW - quase uma usina de Santo Antônio.

Mas cerca de 50% dos projetos não têm licença ambiental. Entre as usinas restantes, a grande maioria está com algum tipo de problema. No início da semana, o diretor-geral da Aneel, Jerson Kelman, afirmou que fará 65 notificações para que os empreendedores justifiquem a razão de as obras não terem sido iniciadas.

Números

7,3 mil megawatts é a potência das usinas licitadas ou autorizadas que estão com
algum tipo de problema

3,3 mil megawatts é a potência prevista pelo Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa)

6.494 megawatts é a potência das usinas de Jirau e Santo Antônio, que compõem o complexo hidrelétrico do Rio Madeira, que hoje aguarda licenciamento ambiental

OESP, 04/05/2004, Economia, p. B6

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.