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Governo de Goiás recusa Hidrovia Araguaia-Tocantins

Midianews-Cuiabá-MT
03 de Dez de 2001

A recusa do governo de Goiás em aprovar a hidrovia Araguaia-Tocantins provará um forte impacto na discussão do modelo de desenvolvimento que vem sendo seguido pelo país até agora. Haverá um conflito entre a Agência Ambiental do Estado de Goiás, co-responsável pelo licenciamento do projeto da hidrovia, e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a quem caberá emitir ou negar a licença ambiental, considerando as opiniões dos estados.
O Ibama já soliticou mais documentos à empresa Ahitar (Administração das Hidrovias Tocantins e Araguaia), que agora conta apenas com a possibilidade de obter o apoio dos governos do Tocantins e do Mato Grosso, estados por cujas divisas passaria a hidrovia.
Mauricio Galinkin, diretor-técnico da Fundação Cebrac, ong responsável pelos estudos que desaconselham a construção da hidrovia, entende que a adesão do governador Marconi Perillo (PSDB) ao Movimento em Defesa do Rio Araguaia, liderado pelo deputado Aldo Arantes (PCdoB-GO), vem agregar forças à luta que se arrasta desde 1995.
O presidente da Agência Ambiental de Goiás, Paulo Souza Neto, vai apresentar toda a argumentação técnica quando o Ibama convocar o estado. Já superintendente da Ahitar, Rogerio Barzellay, dá a entender que poderá fazer a hidrovia contando apenas com o apoio dos estados de Mato Grosso e do Tocantins, onde há menor penetração dos argumentos ambientalistas.
As pesquisas preliminares mostram que para a construção da hidrovia, que ligaria o centro-oeste até a costa do Atlântico, no norte do país, será preciso retirar 500 mil metros cúbicos de areia do fundo do Araguaia, no mínimo. Mesmo que a retirada fique neste nível, o que não acreditam os ambientalistas, haveria forte impacto negativo sobre a fauna aquática, com o desaparecimento das famosas praias do rio Araguaia e provavelmente dos seus lagos adjacentes, além de afetar terras indígenas de onze etnias diferentes.
Obra mais cara do Projeto Brasil em Ação, do governo federal, a hidrovia tem um orçamento inicial com gastos da ordem de R$ 257 milhões. O governo de Goiás entende, assim como os ambientalistas, que o benefício econômico da hidrovia não compensa: o transporte de grãos, por exemplo, será plenamente atendido pela construção da Ferrovia Norte-Sul, enquanto a destruição do ecossistema natural do rio Araguaia não terá preço que pague.
O governo goiano deve lançar um programa de incentivo ao ecoturismo em toda a extensão do Araguaia em seu território, para se contrapor ao projeto da hidrovia. O mais interessante, neste caso, é que um governo do PSDB se opõe frontalmente a um projeto desenvolvimentista do próprio governo federal, liderado pelo mesmo partido. A conclusão é que está mais do que na hora de haver uma revisão de toda a concepção de desenvolvimento para o país, tornando mais ecológica a economia.

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