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Governo boliviano demonstra "preocupação" com represas

FSP, Dinheiro, p. B7
20 de Nov de 2006

Governo boliviano demonstra "preocupação" com represas

Fabiano Maisonnave
Da reportagem local

Em carta dirigida ao governo brasileiro, a Bolívia demonstrou "preocupação" com "os prováveis impactos ecológicos e ambientais" e a inviabilização de projetos energéticos locais que poderiam ser provocados pela construção de duas usinas hidrelétricas no rio Madeira (RO), em área próxima à fronteira entre os dois países, e propôs uma comissão binacional para tratar do tema.
O chanceler Celso Amorim convocou uma reunião para hoje com o objetivo de discutir o conteúdo da carta com representantes de órgãos do governo envolvidos no assunto, como o Ministério das Minas e Energia, informou ontem a assessoria de imprensa do Itamaraty.
"Considera-se, entre os impactos prováveis, a inundação no território boliviano como efeito dos reservatórios, o que afeta, por um lado, a existência do bosque amazônico da bacia do Madeira, da alta riqueza em castanha e, por outro lado, as possibilidades de construção de hidrelétricos para satisfazer as demandas regionais e locais de energia", diz a carta, datada do dia 7 deste mês e assinada pelo chanceler boliviano, David Choquehuanca.
O governo cita especificamente o risco de inundação da área onde está o projeto Cachuela Esperanza, que, segundo estudos preliminares, poderia gerar cerca de 600 MW. A construção dessa usina hidrelétrica, frisa a carta, está prevista em dois acordos bilaterais, assinados em 1984 e em 1988.
Choquehuanca pede ainda que o Brasil "retome o espírito" de integração bilateral e propõe articular as hidrelétricas no rio Madeira "com obras conjuntas". No final, a carta "solicita expressamente o tratamento desse tema em uma comissão bilateral para análise de projetos relativos ao rio Madeira".
Em entrevista à Folha ontem, a vice-ministra de Relações Econômicas Internacionais da Chancelaria boliviana, Maria Luisa Ramos, disse que "o Brasil tem todo o direito para tomar suas próprias decisões", mas que seu governo "vai continuar insistindo para que seja plenamente informado enquanto [o Brasil] não demonstre suficientemente de que as represas não nos afetarão".
O governo boliviano vem sendo pressionado por ONGs ambientais, líderes regionais e pela imprensa local a adotar uma posição sobre as hidrelétricas e o suposto "tratamento unilateral" sobre o tema.
Especialistas bolivianos e brasileiros afirmam que a área alagada deve ser maior do que a prevista no estudo de impacto ambiental (EIA) apresentado pelos construtores, com impacto na Bolívia.
Na sexta-feira, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que as represas no rio Madeira não terão nenhum impacto na Bolívia, posição igual à das empresas envolvidas no projeto, entre as quais a Furnas Centrais Elétricas e a construtora Norberto Odebrecht.
As usinas do Madeira -Jirau (3.150 MW) e Santo Antônio (3.300 MW), orçadas em R$ 20 bilhões, são consideradas prioritárias para o presidente Lula, que na semana passada determinou que a licitação termine ainda no primeiro trimestre do ano que vem.

FSP, 20/11/2006, Dinheiro, p. B7

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