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Governadores pedem ajuda de países ricos para salvar Amazônia

OESP, Vida, p. A16
22 de Nov de 2008

Governadores pedem ajuda de países ricos para salvar Amazônia
Blairo Maggi (MT), Ana Carepa (PA) e Eduardo Braga (AM) apresentaram conta de R$ 7,5 bi/ano em evento nos EUA

Warner Bento Filho

Os governos de estados da Amazônia esperam receber de países ricos investimentos da ordem de bilhões de reais para frear o desmatamento ao mesmo tempo que promovem a inclusão social da população da região. Eles reconhecem, na prática, que não conseguem cuidar sozinhos da floresta e precisam da ajuda de governos e empresas do mundo desenvolvido.

Este foi o discurso que os governadores Blairo Maggi (Mato Grosso), Ana Júlia Carepa (Pará) e Eduardo Braga (Amazonas) levaram para uma conferência encerrada quarta-feira em Los Angeles para discutir as mudanças climáticas. A Conferência de Governadores sobre Clima Global, promovida pelo governo da Califórnia, reuniu representantes dos Estados Unidos e de países que têm florestas tropicais, além de empresários e representantes da União Européia, Nações Unidas e Banco Mundial, entre outras organizações. Pelas estimativas dos governadores brasileiros, a conta da preservação da floresta em seus Estados é de cerca de R$ 7,5 bilhões ao ano.

A grande esperança dos governadores é que as determinações de corte nas emissões de gases-estufa - como a anunciada durante a campanha eleitoral pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Barak Obama, de 80% até 2050, em relação aos níveis de 1990 - resultem em investimentos na Amazônia, por meio de operações de crédito de carbono. Para isso, pretendem incluir o mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento (RED) no mercado de carbono. A negociação começa no próximo mês, em reunião da Convenção do Clima das Nações Unidas em Poznan, Polônia.

O anfitrião do encontro, o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, que também tem metas de cortes de emissões, mostrou receptividade às demandas: "Não podemos agir diretamente no Brasil para preservar as florestas, apenas os governos locais podem fazer isso. Mas podemos apoiá-los com recursos para compensações de emissões, que eles podem usar para plantar árvores."

Além da Califórnia, pelo menos outros quatro Estados americanos aprovaram leis determinando corte nas emissões e são potenciais investidores da preservação da floresta: Flórida, Illinois, Kansas e Wiscosin.

A gerente sênior do Departamento Ambiental do Banco Mundial, Michele de Nevers, anunciu no mesmo encontro que a instituição também pode colaborar para compensar o desmatamento evitado por meio do RED. "Temos US$ 200 milhões para ajudar os países a implementar o RED", disse.

Em Mato Grosso, seriam necessários R$ 5,4 bilhões para remunerar o desmatamento evitado nos 20% da propriedade que a lei permite que sejam cortados, de acordo com Maggi. A remuneração seria de R$ 300 por hectare preservado. O governo do Pará tem como parâmetro para a necessidade de aportes o volume de riqueza movimentado pela atividade florestal ilegal no Estado - como desmatamentos, queimadas e extração de madeira - que chegaria a R$ 2 bilhões ao ano. "Precisamos de captações dessa ordem para fazer frente ao problema", prevê o secretário de Meio Ambiente do Estado, Valmir Ortega.

O governador Eduardo Braga apresentou uma conta de cerca de R$ 120 milhões anuais para a manutenção das unidades de conservação sob responsabilidade do Estado.

O economista britânico Nicholas Stern, autor de um relatório de 2006 sobre a economia das mudanças climáticas, afirmou em visita a São Paulo no início deste mês que os prejuízos do aquecimento global poderão representar de 5% a 30% do Produto Interno Bruto (PIB), dependendo do país.

MAIS RENDA

"O povo do meu Estado espera respostas do mundo sobre a floresta", disse, em discurso, o governador Eduardo Braga. "Quando me perguntaram lá no meu Estado no que esta minha viagem poderia ajudar, eu disse que as pessoas poderiam ganhar mais renda. É a nossa esperança e é por isso que estamos aqui."

Na avaliação da governadora Ana Júlia Carepa, os países ricos são os que mais pressionam a floresta e devem assumir essa responsabilidade. "Não adianta eles apoiarem um projetinho para 50 pessoas. É preciso que se comprometem com o combate à pobreza na região. Essa é uma responsabilidade de todos", afirmou.

"Se o mundo quiser nos ajudar, com certeza estará ajudando a floresta", disse o governador Blairo Maggi. "Quem vive na floresta tem estoque de carbono (por evitar o desmatamento, que emite gases-estufa) e deve receber por isso, porque estamos abrindo mão do desenvolvimento econômico em nome da preservação e isso significa perda de receitas . Com o desmatamento evitado, uma pessoa que mora na floresta beneficia outra que vive em Los Angeles ou em qualquer outro lugar do mundo."

OESP, 22/11/2008, Vida, p. A16

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