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Gestão Alckmin desperdiça água do Rio Grande em plena crise

FSP, Cotidiano, p. B6
12 de Dez de 2015

Gestão Alckmin desperdiça água do Rio Grande em plena crise

FABRÍCIO LOBEL
DE SÃO PAULO

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) desperdiçou nos últimos três dias uma quantidade de água que poderia abastecer até 1 milhão de pessoas por dia na Grande SP.
A perda se deu da seguinte forma: como o sistema Rio Grande encheu, e a obra para desafogá-lo demorou a entrar totalmente em operação, o excesso de água teve de ser despejado na represa Billings.
Ao cair na Billings, a água do Rio Grande se torna inutilizável, já que a represa, de tão poluída, não é usada como fonte de abastecimento.
O sistema Rio Grande, na região do ABC, tem tido papel cada vez mais importante no controle da crise hídrica, agravada no início do ano passado e longe de um fim -milhares de pessoas ainda vivem sob racionamento.
Contrariando o cenário de penúria do sistema Cantareira (atualmente com 17,9% de sua capacidade), o problema no Rio Grande é justamente o excesso de água acumulada.
A quarta maior represa da Grande SP atingiu 99% de sua capacidade. Caso recebesse mais água, haveria risco de inundações ou até mesmo de comprometimento da barragem que a separa da Billings, na rodovia Anchieta, em São Bernardo do Campo.
Por isso, a Sabesp, empresa paulista de água, é obrigada a bombear o excedente para a vizinha Billings. A operação não é inédita, mas torna-se mais grave quando milhares de pessoas continuam com suas torneiras secas.
Embora atualmente seja necessário bombear essa água por segurança, esse desperdício poderia ter sido evitado se a Grande SP estivesse equipada com mais tubulações para interligar a água entre os sistemas.
Outra alternativa ao desperdício seria ter implantado mais rapidamente a principal obra da Sabesp deste ano, a interligação de água entre o Rio Grande e o Alto Tietê.
Sob o ponto de vista da engenharia, a obra é arrojada: dois conjuntos de tubos percorrem 10 km entre subidas e descidas de morros, passando por três municípios.
O objetivo era retirar água do cheio Rio Grande e levá-la até o Alto Tietê, fortemente castigado pela seca. O Alto Tietê tem maior capacidade de tratamento e pode, inclusive, abastecer bairros atendidos pelo Cantareira, que ainda vive situação crítica.
O problema é que, em janeiro deste ano, Alckmin prometera que a obra estaria entregue em maio. Mas o governador só conseguiu concluí-la em setembro.
Mesmo assim, desde então, equipes do governo do Estado faziam reparos no trecho final da obra. O desemboque dos canos é feito em um córrego cujas ribanceiras não aguentaram a força das águas bombeadas e cederam.
Com o imprevisto, o bombeamento teve de ser suspenso várias horas por dia até que o leito do rio fosse reforçado com pedras nas margens.
Enquanto a obra não era terminada, o Rio Grande, que fica próximo à serra do Mar, área de grandes chuvas, foi acumulando água até encher quase que completamente.
Apenas nesta sexta (11) a obra finalmente teve sua capacidade de bombear 4.000 litros de água por segundo plenamente atingida, de acordo com a Sabesp -que não soube informar o volume que vinha sendo transportado.
Para o professor da federal do RS Carlos Tucci, obras de interligação entre sistemas são a forma mais eficiente e segura de gerenciar o abastecimento em uma grande cidade. "É importante criar sinergia entre os sistemas de abastecimento para minimizar o risco de falta de água."
OUTRO LADO
A Sabesp disse à Folha, por meio de nota, que a transferência de água do sistema Rio Grande para a represa Billings se trata de rotina operacional em função do grande índice de chuvas na região.
Nos últimos três meses, por exemplo, choveu 25% a mais do que a média do período na represa.
A operação de bombeamento para a Billings, segundo a Sabesp, é feita de acordo com o nível do Rio Grande e é prevista em acordo com a EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), que administra a Billings.
A estatal diz que o "fato só reforça o acerto em usar o Rio Grande, que está nesta sexta-feira (11) com 98,1%, para ajudar a recuperar o sistema Alto Tietê, bastante afetado pela estiagem sem precedentes".
Em janeiro, a obra de interligação entre o Rio Grande e o Alto Tietê -que poderia evitar o atual desperdício de água- foi prometida para maio. Meses depois, a própria Sabesp havia dito que a obra seria concluída em julho.
Em mais uma prorrogação, a estatal disse que os 4.000 litros por segundo de capacidade de transferência ficariam prontos em setembro.
A Sabesp argumentou que, entre outras etapas, teve que negociar os termos da obra com a Petrobras, dona de gasodutos na região.
De acordo com a Sabesp e a gestão Alckmin (PSDB), imprevistos diante de uma obra do tamanho da interligação entre os dois sistemas são normais e esperados.

FSP, 12/12/2015, Cotidiano, p. B6

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/12/1718243-gestao-alckmin-d…

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