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Garantir acesso e permanência na universidade reduz exclusão histórica dos indígenas

Bonde bonde.com.br
Autor: Luis Fernando Wiltemberg
03 de Jun de 2017

As políticas para garantir o ingresso e evitar a evasão dos indígenas das universidades paranaenses são desenvolvidas há 15 anos pelo Conselho Universitário Indígena (Cuia) e vão além do mero apoio financeiro: é uma série de ações que visam garantir a inclusão destes povos. Para a psicóloga do Serviço de Bem-Estar à Comunidade (Sebec) e membro do Conselho Universitário Indígena (Cuia) da UEL Carla Maria Canalle Bagnossim, a inclusão indígena é crucial para reduzir e eliminar a exclusão destes povos do ensino superior acadêmico, uma questão histórica.

Segundo Carla, as políticas começam com a aplicação do vestibular indígena, em separado, que respeita as especificidades étnicas e até mesmo a língua na qual são elaboradas as provas. "Para muitos, o português não é a língua primária", explica. As provas são aplicadas no idioma dos candidatos e é feita em conjunto com todas as instituições. As universidades estaduais abrem seis vagas cada para índios que morem no Paraná e a Universidade Federal do Paraná (UFPR) também aproveita o certame para o ingresso de indígenas, neste caso, do País todos.

Após o ingresso, os novos alunos passam por um ano de Ciclo Intercultural de Iniciação Acadêmica, no qual o estudante tem disciplinas de ciências da natureza, ciências exatas e ciências humanas e português, relacionados a questões interétnica e intercultural. As questões indígenas dentro das universidades são discutidas e gerenciadas pelos conselhos universitários indígenas instituídos dentro de cada universidade e de um Cuia estadual.

Para Carla, a inclusão indígena é crucial para reduzir e eliminar tanto a exclusão dentro da universidade quanto para combater as desigualdades vigentes na sociedade em relação a estes povos. "Historicamente, à medida que excluímos e não damos a oportunidade dessas comunidades se desenvolverem, também negamos condições de alcançarem a igualdade e a dignidade social e econômica", afirma. Ela explica que estes universitários absorvem novos conhecimentos que, depois, são utilizados justamente para auxiliar o bem-estar de seus povos. "Temos uma médica graduada na UEL que hoje atua em uma aldeia. Mesmo que não seja a dela própria, ela trabalha pelos indígenas", afirma.

Passos semelhantes deve seguir a graduanda de Direito Kunhã Itawidju, cujo registro civil é Angélica Ferreira Camargo. Ela, que é da etnia guarani ñhandewa, diz que escolheu esta carreira devido à luta pela demarcação de terras indígenas que seu povo enfrenta. "Eu venho de uma terra retomada há doze anos e é muito estressante. A gente vem [para a universidade] buscar um conhecimento que não é para nós, não é algo pessoal, mas para retornar à comunidade e devolver esse conhecimento, ajudar a lutar nossas causas, atuar dentro da comunidade, seja qual curso for", afirma.

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