VOLTAR

Fraude milionária leva ex-governador à prisão

OESP, Nacional, p. A12
27 de Nov de 2003

Fraude milionária leva ex-governador à prisão
Neudo Campos é suspeito de integrar esquema de desvio de R$ 320 milhões na folha de Roraima

O ex-governador de Roraima Neudo Campos (PP) foi preso na manhã de ontem, como resultado da Operação Praga do Egito, desencadeada há três meses pela Polícia Federal. Ele é acusado de participar de um esquema que fraudava a folha de pagamento de salários do Estado e provocou prejuízo já comprovado de pelo menos R$ 320 milhões, montante que, na avaliação dos policiais, pode passar de R$ 1 bilhão.
O juiz da 2.ª Vara Federal de Boa Vista, Hélder Barreto, decretou a prisão temporária de outras 56 pessoas, entre elas um ex-conselheiro do Tribunal de Contas de Roraima e ex-deputados estaduais. Até o fim da tarde, 40 pessoas já tinham sido detidas em Boa Vista e emcidades de Rondônia e do Amazonas - todas elas acusadas de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, peculato e sonegação fiscal.
Governador por dois mandatos, Neudo é acusado de ter articulado em Roraima um esquema responsável pela montagem de uma folha de pagamento paralela da qual constavam os nomes de 5.500 funcionários fantasmas. Os salários eram recebidos, por meio de procurações, parlamentares, secretários ou parentes de políticos.
Essa folha paralela, que passou a ser conhecida como gafanhoto - por devorar recursos públicos com voracidade -, chegou a movimentar em torno de R$ 70 milhões por ano. Dois deputados chegaram a receber até R$ 250 mil.
A administração da folha era responsabilidade da Norte Serviço de Arrecadação e Pagamentos Ltda. - que, apesar de ser instituição privada, fazia a arrecadação de impostos estaduais e pagamentos de funcionários públicos. Até ontem, 39 inquéritos haviam sido abertos pela PF.
Os valores pagos variavam entre R$ 400 e R$ 4 mil, mas a média salarial que os portadores de procurações recebiam estava em torno de R$ 2 mil.
Para os laranjas, cujos nomes eram incluídos na folha, o porcentual pago era em torno de R$ 50. Em muitos casos, uma única pessoa era "contratada" por vários parlamentares ao mesmo tempo e registrada com diversos CPFs. Durante as investigações, a PF descobriu casos em que os fraudadores recebiam até as restituições de Imposto de Renda dos laranjas, muitas vezes moradores da periferia de Boa Vista.
"Há prisões ainda a serem executadas", disse o procurador da República Darlan Dias. Com isso, o número de presos pode chegar a cem nas próximas semanas, conforme cálculo dos investigadores. Segundo Dias, alguns dos implicados possuem hoje foro privilegiado e só podem ser presos com autorização do Tribunal Regional Federal (TRF) - no caso dos secretários estaduais - ou do Supremo Tribunal Federal. (STF) - no caso de parlamentares com mandatos. Os recursos usados nos pagamentos, segundo as investigações, eram do governo federal e deveriam ser usados em obras públicas, principalmente na construção de estradas e escolas. Mas, a partir de 2001, alimentava um dos maiores esquemas de fraudes no País.
"Isso aconteceu porque havia a certeza da impunidade. O que está acontecendo agora é questão de moralização", afirmou o procurador. Pelo menos 600 portadores de procuração que serão indiciados.
Reação - Neudo foi preso numa casa do Lago Sul, em Brasília, onde mora sua mulher, a deputada Sueli Campos (PTB). Quando os policiais chegaram para levar o ex-governador até a superintendência no Distrito Federal, o preso não esboçou reação. Seu filho, porém, não teve o mesmo comportamento.
Da sede da PF até o aeroporto, o rapaz - que não foi identificado - jogou o carro várias vezes contra os veículos da imprensa. Neudo foi levado para Boa Vista, num avião da PF, à tarde.
O delegado Agripino Oliveira informou que pedirá ao juiz Helder Girão - que assinou a ordem de prisão anteontem - uma devassa nas contas bancárias, no Brasil e no exterior, de todos os envolvidos.
Amazônia - Neudo escolheu a defesa da Amazônia, contra o que chamava de "internacionalização da região", uma das principais bandeiras de sua gestão, que abrangeu dois mandatos (1994 e 1998). Cortou o Estado no meio, com a construção da BR-174, obra de grande visibilidade que liga Manaus à Venezuela. Com fama de pão duro, foi ainda campeão entre os governadores no ranking dos que seguem a cartilha da responsabilidade fiscal. Neudo enfrentou, porém, denúncias e suspeitas. O maior escândalo foi um suposto desvio de R$ 5 milhões das Centrais Elétricas de Roraima (CER) para a campanha de reeleição.

OESP, 27/11/2003, Nacional, p. A12

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.