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Fim de bairro-cota causa receio em área nobre

OESP, Metrópole, p. C4
11 de Ago de 2010

Fim de bairro-cota causa receio em área nobre
Jardim Casqueiro receberá 7,4 mil removidos da Serra do Mar, mas infraestrutura completa fica para 2011 e obra deverá ser inaugurada sem Habite-se

Eduardo Reina

A remoção dos bairros-cota da Serra do Mar será acelerada nesta semana, com a entrega da CDHU do Jardim Casqueiro, em Cubatão, com 1.840 unidades para famílias retiradas de regiões de preservação na serra e de dentro do parque estadual ou de áreas de risco. Mas os atuais moradores do bairro nobre do litoral já temem que a chegada de 7,4 mil pessoas mude o eixo de desenvolvimento local e resulte em falhas de infraestrutura.
A previsão é de que a partir desta semana os novos moradores comecem a ocupar unidades da CDHU no Casqueiro, que já tem 40 mil habitantes. Para iniciar a transferência falta ainda a liberação do certificado de Habite-se de parte do conjunto residencial de 1.840 unidades. O governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), inaugura a obra hoje. Ao lado, outros empreendimentos da companhia e do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) levarão para a área mais de 11 mil pessoas.
Pelo Programa de Recuperação Socioambiental da Serra do Mar, o Estado cadastrou 7.760 famílias nas encostas entre a Via Anchieta e a Rodovia dos Imigrantes. Serão removidas 5.350 e outras 2.410 famílias permanecerão nas atuais casas - elas receberão a posse dos imóveis e os bairros remanescentes passarão por reurbanização.
O secretário de Estado de Habitação, Lair Krähenbühl, admite que ainda há restrições estruturais, mas afirma que as obras de melhoria seguem em ritmo acelerado. "A população poderá contar aqui com ampla rede de serviços públicos, como nova escola, posto permanente da Polícia Militar, aumento do efetivo policial em 30%, um viaduto novo, novas linhas de ônibus, uma unidade básica de saúde e a universalização dos serviços de coleta de esgotos."
Fora do eixo. As remoções anteriores para a Praia Grande já haviam provocado queixas, dos removidos, como o Estado mostrou no dia 26. A CDHU admitiu as falhas nos conjuntos Vila Sônia e Andorinhas, mas ressaltou que foram comprados da Caixa, e prometeu soluções.
Agora, se teme o inchaço de um bairro nobre, segundo o comerciante Luiz Mário dos Santos. "Os prédios novos chegam, mas não há banco, delegacia, creche nem comércio."
"Só queremos uma infraestrutura melhor. Não há creche, escola, posto de saúde, tampouco rede de esgoto", completa Simone Tenório, do Conselho Consultivo da Sociedade Amigos do Jardim Casqueiro. Ela conta que o único acesso do bairro ao centro de Cubatão é feito por um viaduto construído na década de 1970. Já Krähenbühl ressalta que o projeto do novo viaduto se encontra em licitação - e o contrato será assinado em outubro. Uma nova escola com 12 salas será entregue em 2011. A UBS ficará ao lado do residencial e só depende de aval municipal.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100811/not_imp593374,0.php

Alívio e resistência no meio da Serra

Eduardo Reina

Marli Xavier Carvalho, de 55 anos, tem mais do que raízes no Cota 200, na Serra do Mar. Nasceu no local e seu pai e seu avô ajudaram a construir a Via Anchieta. Seu maior sonho é morar num lugar plano, onde possa fazer as caminhadas recomendadas pelo médico. "Aqui no morro não dá."
Ela e o marido, Edson de Oliveira Carvalho, serão duas das primeiras pessoas a se mudar para o residencial da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) no Jardim Casqueiro. "Estou enjoada de morar no mesmo lugar. Vários vizinhos vão junto."
A família mora na Rua Principal, que nos idos de 1950 servia de passagem para as cotas mais altas da Serra do Mar na construção da Anchieta. Marli reside hoje numa casa de alvenaria - anteriormente era de madeira - subdividida em duas. Vai para uma casa de 60 metros quadrados. "Estou feliz. Vai facilitar muito, vou ficar perto do centro da cidade."
Resistência. Se por um lado os Carvalhos comemoram, tem gente que não quer deixar a casa, mesmo que ela fique num terreno íngreme e sujeito a deslizamentos.
"Não estou contra tirar a gente daqui. Mas gostaria de receber R$ 15 mil para mudar para Sergipe", diz Eucir Maciel, que completa 70 anos amanhã.
Ela mora no chamado Grotão, um vale com grande risco de desabamentos. Parte dos moradores locais já foi removida. O entulho do que sobrou nas paredes das casas desocupadas forma um enorme monte no meio dos imóveis de quem ainda resiste.
Para se chegar ao ponto próximo de um corpo d"água que recebe o esgoto local é necessário descer mais de 70 degraus, numa rampa de tirar o fôlego.
Eucir diz que a filha já comprou um terreno para ela construir uma casa em Sergipe. "Gastei mais de R$ 12 mil aqui. Mas me ofereceram R$ 5 mil para ir embora. Trabalhei muito para conseguir minhas coisas", reclama.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100811/not_imp593375,0.php

OESP, 11/08/2010, Metrópole, p. C4

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