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Festival indígena resgata rituais de etnias do Acre e Mato Grosso

O Globo - http://oglobo.globo.com/
01 de Nov de 2010

SÃO PAULO - Uma festa indígena celebra e resgata tradições de etnias do Acre e Mato Grosso. A nona edição do Festival Yawa reúne representantes de pelo menos cinco grupos indígenas do Acre e Mato Grosso, além de cerca de 700 yawanawás. A edição deste ano do evento celebra o reencontro dos povos na cerimônia Nukuyra Nuruná, em que os índios relembram como viviam seus antepassados. O Festival Yawa é realizado na Aldeia Nova Esperança, no Alto Rio Gregório, em Tarauacá, no Acre.

Em Mutum, os yawanawás mantêm um grande bosque medicinal - o Nii Pey - com mais de 5.000 espécies da flora amazônica e se apresenta como portal ao festival, que atrai a atenção de turistas de vários países. O primeiro Festival Yawa foi realizado em junho de 2002 e neste ano, só no primeiro dia, recebeu visitantes dos Estados Unidos, Canadá, Argentina, Chile e Austrália. O cacique Vernon Foster Lakota, do Arizona, representou os índios norte-americanos na festa.

Iniciativa do governo do Acre, o Plano de Valorização dos Povos Indígenas consolida o Plano de Gestão Territorial Indígena (PGTI). O Programa de Inclusão Social e Desenvolvimento Sustentável do Acre (ProAcre) prevê investimentos de R$ 2.806.990 e se constitui em um mecanismo pelo qual a população indígena define estratégias, prioridades e demandas de suas comunidades. Neste caminho, o Festival Yawa se traduz na casa onde os povos se encontram e se alegram com essas conquistas:

- A casa da gente se sente como a união de todos os povos indígenas deste Estado - disse o cacique Biraci Brasil, líder Yawa em agradecimento ao compromisso do governo com as populações tradicionais.

Pelo menos na metade das mais de 200 aldeias de quinze povos indígenas, a língua original ainda é mantida. Em 1999, 915 índios estavam matriculados, hoje são mais de seis mil pessoas na educação bilíngue multicultural. Estão sendo construídas mais 22 escolas, sendo que três são de ensino médio. O governo investe ainda na formação dos professores, o que permite a difusão da cultura local em todos os níveis do ensino.

- Estamos há doze anos no governo, mas nosso governo começou muito antes. Foram os povos indígenas e os seringueiros que disseram não ao projeto que avançava para transformar o Acre em um imenso pasto - garantiu o governador Binho Marques logo após assistir ao ritual do Kushana, dedicado ao fim das possíveis mágoas de um índio ao outro.

Ao som do Purintí - buzina que avisa ao mundo espiritual que na terra Yawá "está acontecendo alguma coisa" -, os índios refazem a trajetória de seus antepassados e mantêm acesa a chama de uma cultura milenar que ensina ao mundo como é possível viver em harmonia com a Natureza.

A política indígena do Acre se traduz no fortalecimento das comunidades e sua conseqüente autonomia e emancipação. Recentemente os yawanawas assinaram contrato de comercialização de 10 toneladas de farinha com uma empresa de Rio Branco. Além da produção de alimentos, os yawanawas trabalham com o de aproveitamento de madeira. A comunidade conseguiu recursos para montagem de uma marcenaria. Hoje, o projeto é coordenado pela Secretaria de Florestas, e inclui a qualificação dos indígenas e consultoria especializada para garantir a qualidade dos produtos. Na reserva vivem cerca de 700 índios Yawanawas e katuquinas, que estão na relação de etnias que recebem recursos e ações do programa de mitigação dos impactos das obras na BR-364. Por esse programa, estão sendo investidos mais de R$ 1,9 milhão que beneficia cerca de seis mil moradores de várias terras indígenas e aldeias sob influência da rodovia.

Só na aldeia Nova Esperança, onde ocorre o Festival Yawa, há 430 yawanawá. Existem também as aldeias Mutum, Matrinchã, Amparo, Tibúrcio, Escondido e Sete Estrelas.

Consultores em artesanato estão na aldeia Nova Esperança para qualificar a comunidade na produção de biojóias a partir de sementes de espécies amazônicas, como a paxiúba e a jarina, além de madeiras identificadas para esse fim pelos próprios índios. Cezarina Pereira de França e Ademar da Silva Filgueira permanecem na aldeia ministrando o curso que tem elevado a qualidade do artesanato produzido pelos Yawa.

http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2010/11/01/festival-indigena-resgat…

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