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Famílias de indígenas dependem de lixo para sobreviver em BV

Folha de Boa Vista-RR
Autor: ALEXSANDRA SAMPAIO
03 de Jun de 2002

A lixeira pública de Boa Vista é hoje o local mais procurado pelos indígenas que deixam suas aldeias para morar na cidade quando precisam conseguir o sustento de suas famílias. Atualmente, 270 pessoas sobrevivem vendendo latas e alumínio que encontram nos entulhos da lixeira, sendo que aproximadamente 90% são indígenas das etnias macuxi, wapixana e taurepang.
Muitos deles ao chegarem na cidade tiveram a oportunidade de trabalhar com os não índios, mas foram parar na lixeira porque foram demitidos e não conseguiram mais uma vaga no mercado de trabalho ou porque se sentiam explorados pelos patrões. É o caso da índia macuxi Carminha Correia Pinto. Ela contou que trabalhou alguns anos como doméstica, mas diz que não tem intenção de deixar de catar lixo para voltar ao trabalho doméstico.
"Sempre passava dificuldade quando precisava de dinheiro para comprar o leite das crianças. Além disso, era enganada por algumas patroas. Na lixeira, a gente não tem patrão, não precisa trabalhar todo dia, só quando precisa e, mesmo assim, sempre se consegue algum dinheiro", afirma Carminha que tem seis filhos e chega a ganhar até R$ 200,00 por semana na lixeira.
Já o caso de Alexandre Matias de Souza, 34, foi o desemprego que o obrigou a se tornar um catador de lixo. Há seis anos morando em Boa Vista, faz dois anos que deixou de trabalhar como açougueiro. Antes de se decidir pela lixeira, ainda passou oito meses procurando emprego. "Foi quando minha sogra falou do trabalho que fazia e resolvi também catar lixo para conseguir algum dinheiro", lembra.
O fato de conviver diariamente com lixos não é algo que os incomoda tanto. A maioria dos indígenas que trabalham na lixeira não pensa na possibilidade de voltar a viver em malocas. Para eles é mais importante o fato de terem oportunidade de colocar os filhos na escola, manter a casa que conseguiram na cidade do que voltar para o interior.
Algumas dessas famílias moram em barracas improvisadas que estão espalhadas ao redor da lixeira. Uma senhora indígena procurada pela equipe de reportagem da Folha para contar sua história demonstrou ficar indignada com as perguntas que eram feitas a ela, demonstrando seu descontentamento com a vida que é obrigada a levar.
Associação foi constituída para defender interesses dos catadores

Como forma de garantir o sustento de suas famílias, as pessoas que trabalham na lixeira resolveram se organizar numa associação no ano passado depois de serem pressionados a deixarem o local. A líder dos catadores de lixo é a também indígena Elizabete Pereira da Costa. "Todos os dias era a Guarda da Prefeitura ameaçando a gente a deixar a lixeira. O problema é que só catamos lixo para sobreviver. Foi quando resolvemos nos unir para evitar que a gente saísse de lá", lembra.
Ela conta que a intenção do grupo é também garantir a presença dos catadores no aterro sanitário depois que ele for concluído pela Prefeitura. Segundo ela, o Município já cadastrou todos os catadores que trabalham na lixeira e houve a promessa de que eles irão trabalhar no aterro.

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