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Falta luz em aldeia Krahô

OESP, Vida, p. A32
31 de Out de 2010

Falta luz em aldeia Krahô

O cacique Dodonim Krahô, de 55 anos, da Aldeia Manoel Alves Pequeno, e seu filho, Renato Yahé Krahô, de 25 anos, são alunos do curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade Federal de Goiás (UFG). Deverão se formar na primeira turma, em 2012.
Dodonim participa de um projeto, junto com os professores, de confecção de um dicionário krahô/português. Renato escreveu um livro em krahô, destinado à alfabetização em língua materna da meninada da aldeia, que fica a 7 quilômetros de Itacajá, a 320 quilômetros ao norte de Palmas, capital do Estado.
Apesar de estarem no século 21, fazendo graduação num curso superior, sabem que sua aldeia ainda vive a realidade do subdesenvolvimento, sem luz elétrica, sem estradas, com quase todas as 300 pessoas que ali vivem dependendo de programas como Bolsa-Família.
As pessoas juntam o dinheiro recebido desse benefício e compram gêneros alimentícios. No dia em que a reportagem do Estado esteve na aldeia, eles haviam comprado uma vaca. A carne foi dividida em quantias exatamente iguais, sendo distribuídas em todas as casas.
"As coisas mudam. Estamos nos adaptando à sociedade. Aqui na aldeia a vida é diferente, tudo é calmo, tudo é repartido de igual para igual", contou Renato, que um dia será cacique. "Mas é preciso ensinar as crianças, prepará-las para esse novo mundo que se abre, que não vai nos tirar a sensibilidade indígena, mas vai nos integrar a um mundo do qual não podemos fugir."
Dodonim lembrou que, quando as autoridades brancas levaram as escolas para as aldeias indígenas, a realidade deles não foi respeitada, porque toda a configuração obedecia a outro tipo de orientação, completamente estranha aos índios. Hoje, isso mudou e as aulas na escola seguem os rituais krahô.
Do mesmo modo, Dodonim considera que o assistencialismo oficial prejudicou os índios. "Passaram a nos trazer farinha e arroz, o que nós já sabíamos produzir. Então, se nos davam esses produtos, produzi-los para quê?"
Isso fez com que os índios parassem de plantar e optassem por viver às custas dos favores oficiais. "Estamos tentando superar isso. Temos debatido o assunto com as autoridades e temos sido ouvidos."
No escuro. Apesar de o governo federal apregoar os benefícios do programa Luz Para Todos, que teria levado energia elétrica a quase 100% das propriedades rurais, os krahô não têm rede de energia elétrica em suas aldeias.
Veículos pequenos têm dificuldades de chegar a Manoel Pequeno, cidade mais próxima de Itacajá. Há bancos de areia por todos os lados. Para as outras cidades, que ficam mais distantes, só é possível chegar em carros com tração 4x4.
A aldeia, como todas as krahô, foi construída em formato circular. Foi fundada por Secundo Krahô, pai de Dodonim e avô de Renato. "Levamos dias e dias para chegar aqui, carregando couros de animais", contou Secundo.
Ele não sabe exatamente quantos anos tem. A Funai lhe deu uma carteira de identidade na qual aparece com 70 anos. Mas a mulher já está com 90. O filho e o neto calculam que ele também tenha uns 90 anos.

OESP, 31/10/2010, Vida, p. A32

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101031/not_imp632424,0.php

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