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Falta de água já afeta todas as regiões da cidade de SP

FSP, Cotidiano, p. C1
15 de Out de 2014

Falta de água já afeta todas as regiões da cidade de SP
Há casos em ao menos 24 bairros; calor aumentou consumo, diz Sabesp
Condomínios contratam caminhões-pipa e proíbem uso de piscina para tentar economizar água em meio à crise

DE SÃO PAULO

Antes circunscritos a determinadas áreas, em períodos específicos, os casos de falta de água se espalharam pela cidade de São Paulo nos últimos dias, atingindo todas as regiões da capital por intervalos que variam entre algumas horas a vários dias.
Relatos feitos por leitores à Folha e colhidos nas ruas indicam uma piora generalizada do quadro.
Nas últimas 24 horas, a reportagem identificou ao menos 30 pontos de desabastecimento em 24 bairros.
As descrições contrastam com o discurso oficial da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), que nega racionamento.
A Sabesp reconhece parte do problema. Diz que nos últimos dias houve um aumento do consumo devido ao forte calor, mas afirma que isso prejudica o abastecimento em "alguns pontos", altos e distantes de reservatórios.
Na semana passada, a presidente da companhia, Dilma Pena, estimou em "1% a 2%" o percentual dos paulistanos atingidos pelo problema --além dos habitantes de regiões altas, mencionou quem não possui caixa d'água.
A situação é mais complicada para consumidores com esse perfil, mas a Folha constatou que o problema não se resume a eles.
A crise trouxe de volta à cena os caminhões-pipa, alguns deles distribuídos pela própria Sabesp.
"Mas ele passa rápido. Quem não corre fica sem", disse Gilson Costa Trindade, 45, morador da Vila São Pedro (zona sul), onde há falta de água desde domingo (12).
Baldes, galões e tonéis viraram objetos comuns na casa de paulistanos, que passaram a estocar água para tarefas domésticas.
"Comecei a armazenar para tomar banho e jogar na privada. Também vou começar a estocar para beber", afirma a dona de casa Sueli Pereira, 60, na Vila Nova Cachoeirinha (zona norte). Ela possui caixa de 1.000 litros, mas o reservatório não deu conta.
De acordo com ela, inicialmente o desabastecimento começava no fim da noite e terminava de manhã. Agora, começa no fim da tarde.
Em prédios e condomínios, o uso de piscinas está sendo limitado e até proibido.
Cartões postais da cidade, como parque Ibirapuera e avenida Paulista, também foram atingidos pela escassez.
Morador da Paulista, Felipe de Almeida, 41, diz que precisou levar os dois filhos para tomar banho num clube. "Amigos e familiares já enfrentavam o problema. Era questão de tempo."
O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) vai acionar o Ministério Público para obrigar a Sabesp a dar mais informações sobre a redução de pressão no fornecimento --principal hipótese para explicar as interrupções.
A empresa diz que a prática não visa racionar água, mas sim diminuir perdas com vazamentos --embora tenha causado uma "economia fabulosa", nas palavras de um diretor da companhia.
Para o Idec, a atuação da Sabesp é ilegal, pois o Código de Defesa do Consumidor diz que serviços essenciais devem ser prestados de forma contínua.
A Sabesp tem afirmado que não houve aumento de queixas. A maioria dos moradores entrevistados pela Folha diz que não reclama por acreditar que a queixa formal não daria resultado.
(ANDRÉ MONTEIRO, ARTUR RODRIGUES, CÉSAR ROSATI, FÁBIO TAKAHASHI, JUCA VARELLA, FABRÍCIO LOBEL, LEANDRO MACHADO, NATÁLIA CANCIAN E PEDRO IVO TOMÉ)

Outro lado/Crise da água
Sabesp diz que calor afeta o abastecimento
Empresa e governo do Estado vêm negando haver problema generalizado de falta de água em São Paulo

DE SÃO PAULO

A Sabesp, responsável pelo abastecimento de água em São Paulo, disse que o forte calor aumentou o consumo, prejudicando o abastecimento em alguns bairros da cidade. Afirma, porém, que isso se restringe a "alguns pontos altos e distantes" do município --ao contrário do que constatou a reportagem.

A empresa sustenta ainda que, além do calor, as interrupções foram provocadas por manobras operacionais para trocar os sistemas de abastecimento dos bairros.

Esses procedimentos são feitos desde o início do ano para que áreas abastecidas originalmente pelo sistema Cantareira passem a receber água de outros mananciais em situação menos crítica.

Nesta terça (14), o nível do sistema Cantareira correspondia a 4,5% da capacidade.

"A Sabesp agradece a contribuição dos consumidores na redução do consumo, que continua sendo essencial para enfrentar a seca mais grave da história", conclui a nota enviada pela empresa.

Ao contrário do que costuma fazer, a companhia não respondeu individualmente sobre os casos de falta de água colhidos pela Folha.

Desde o início da crise da água, a Sabesp e a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) vêm negando haver um problema generalizado na cidade.

Apesar de questionada em diversas ocasiões sobre moradores relatarem falta de água à noite, e agora também em períodos do dia, a companhia vem dizendo que não está reduzindo o volume de água entregue à população.

A presidente da empresa, Dilma Pena, nega haver racionamento em São Paulo.

Na última quarta-feira (8), em depoimento à CPI da Câmara Municipal que investiga a crise hídrica, ela reconheceu pela primeira vez que existe uma "falta de água pontual", causada por "diminuição da pressão noturna que atinge em média 1% ou 2% da população".

Dilma declarou, porém, que a prática da Sabesp não é um racionamento, mas uma "administração de disponibilidade de água".

A fala foi criticada pelos parlamentares, que chamaram os termos usados pela executiva de eufemismos.

FSP, 15/10/2014, Cotidiano, p. C1

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saudeciencia/190662-governo-adia-divul…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/190721-sabesp-diz-que-calor-…

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