Falsa oposicao

Falsa oposição
A veemência do debate entre ambientalistas e defensores do crescimento econômico chega a criar a impressão de que o desenvolvimento só é possível às custas da degradação de recursos naturais. É uma falsa oposição: a defesa do meio ambiente não precisa implicar rejeição do progresso, nem a promoção do crescimento é necessariamente sinônimo de destruição de ecossistemas.
Infelizmente, essa visão em preto e branco generalizou-se. Enquanto o ambientalismo ideológico cria toda sorte de empecilhos ao licenciamento para construção de usinas hidrelétricas, estradas e outros projetos de infra-estrutura, economistas radicais concentram sua argumentação nos gargalos e na ameaça de apagões para rejeitar qualquer restrição com base na necessidade de preservar recursos naturais.
Todos têm suas razões. O Brasil precisa de mais geração de energia para poder crescer, e não pode admitir, por exemplo, que a Votorantim espere 15 anos pela licença para construir uma usina em São Paulo; mas o desmatamento já alcança mais de 16% da área da Amazônia e não pára de crescer, e nos grandes centros urbanos a poluição do ar e da água — que já afeta até o Aqüífero Guarani — atinge níveis dramáticos.
Nenhuma lei da natureza diz que progresso e ecologia são inimigos; pelo contrário, os casos de maior devastação costumam ocorrer nos países mais pobres, onde a luta difícil pela sobrevivência leva ao descaso pela preservação do meio ambiente. Aqui, temos uma legislação ambiental mais do que adequada para impedir efeitos adversos das obras de infra-estrutura; ela precisa apenas ser aplicada com o devido rigor.

O Globo, 06/12/2004, p. 6