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Fábrica para castanha ajuda índios no MT

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Autor: Osmar Soares de Campos
29 de Abr de 2008

Em vez de passar a atravessadores, indígenas e agricultores do Mato Grosso poderão processar a castanha-do-Brasil, vendendo-a mais caro

A inauguração de uma espécie de fábrica para descascamento e embalagem de castanhas-do-Brasil deve elevar em 40% a renda de cerca de 2.200 índios e pequenos agricultores no noroeste de Mato Grosso e ajudar a recuperar a região - que abriga um dos últimos remanescentes da floresta amazônica no Estado. A instalação dos equipamentos, patrocinada pelo governo federal, pretende auxiliar os trabalhadores a obter maior valor com as cerca de 300 toneladas da semente que recolhem anualmente, além de eliminar os atravessadores - que compram o produto a preços baixos para depois vendê-los em grandes centros com margem de lucro que pode ultrapassar os 1.000%.

A inauguração da Unidade de Beneficiamento de castanha-do-Brasil será às 14h desta quinta-feira (01/05), no Assentamento Vale do Amanhecer, em Juruena - município a 950 km de Cuiabá. Com 300 metros quadrados, a fábrica custou R$ 112 mil, pagos pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), que o fez em troca de apoio a um projeto de recuperação de áreas degradadas.

A unidade conta com maquinários como secador rotativo, caldeirão de pressão para soltar a amêndoa e facilitar a quebragem, máquinas para descascar a castanha, e um forno, para tirar a umidade. Após esse processo, a castanha-do-Brasil, também conhecida como castanha do Pará, é embalada a vácuo, para poder ficar armazenada mais tempo. A capacidade de processamento da unidade é de 50 toneladas por mês.

A fábrica, administrada por uma cooperativa da região, vai comprar a castanha dos índios e dos agricultores por um preço mais próximo do de mercado - os recursos virão de um empréstimo da CONAB (Companhia Nacional do Abastecimento). A expectativa dos organizadores é que a iniciativa ofereça um incremento, em um primeiro momento, de 40% na renda das 500 famílias de trabalhadores que, nos cinco primeiros meses do ano, recolhem essas sementes nativas da região.

Essas famílias fazem parte do Programa Integrado da Castanha - parte de um projeto maior, patrocinado pelo GEF (Fundo Global para o Meio Ambiente) e administrado PNUD. O programa teve inicio em 2003, em terras de proteção indígenas.

"Nós capacitamos os índios para que eles melhorassem a qualidade da castanha-do-Brasil recolhida, para que não fossem atacadas por fungos", afirma o coordenador do componente de Sistemas Agroflorestais do projeto, Paulo Nunes. "Assim, as sementes poderiam ser armazenadas por mais tempo até surgir um comprador que oferecesse um preço justo, para eles não terem que entregar ao primeiro atravessador que aparecesse."

Com a capacitação no processo de coleta, secagem e armazenamento, o preço da castanha-do-Brasil com casca aumentou gradativamente, de R$ 0,30 a R$ 0,40 o quilo para algo entre R$ 1,40 e R$ 2,10 no ano passado. "Com todos esses resultados aparecendo, houve interesse de outras comunidades, etnias e dos agricultores familiares, que não participavam desse trabalho, mas passaram a se interessar", conta Nunes.

Com a criação da Unidade de Beneficiamento de castanha-do-Brasil, Nunes crê que, em vez dos cerca de R$ 600 mil por ano (preço estimado pelas 300 toneladas da semente com casca), os trabalhadores passarão a receber R$ 1 milhão. Esse valor é referente ao que a fábrica pode obter, num primeiro momento, pelas 100 toneladas anuais de amêndoa descascada. "Assim que a fábrica se estruturar, tiver um estoque, capital de giro, ela deve entrar nos grandes supermercados, e o preço deve aumentar duas ou três vezes", prevê. "De R$ 10 o quilo da castanha descascada, nós acreditamos que o valor pode chegar a mais de R$ 30. Elas chegam a ser vendidas por R$ 50 o quilo."

O Programa Integrado da Castanha integra um trabalho maior, o Promoção de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade nas Florestas de Fronteira do Noroeste do Mato Grosso, apelidado de GEF-Noroeste, administrado pelo PNUD e apoiado pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado. Ele é responsável pela proteção ambiental de uma área de 11 milhões de hectares, que abrange sete municípios da região.

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