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Extrativista denunciou ameaça de morte

O Globo, O País, p. 14
26 de Mai de 2011

Extrativista denunciou ameaça de morte
Corpos de ambientalistas assassinados serão enterrados hoje em Marabá

Os corpos dos ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, assassinados a tiros na terça-feira em Nova Ipixuna, no Pará, serão enterrados hoje no Cemitério de Marabá. Familiares das vítimas e extrativistas programaram para hoje uma passeata, seguida de protesto, contra as mortes e pela causa ambiental. O casal denunciava, desde 2008, a extração irregular de madeira no Sudoeste paraense. Em novembro do ano passado, durante uma palestra em Manaus sobre a Amazônia, José Cláudio afirmou estar sofrendo ameaças de morte:
- Vivo da floresta. Protejo ela de todo jeito. Por isso, eu vivo com a bala na cabeça a qualquer hora. Eu posso estar hoje aqui conversando com vocês, e daqui a um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci - disse o ambientalista na época.
De acordo com a irmã de José Cláudio, Claudelice Silva dos Santos, uma relação com nomes de pessoas que teriam feito ameaças ao casal de ambientalistas foi encaminhada à polícia. Ela afirma que o casal tinha inimigos e que já havia registrado queixas na delegacia de Nova Ipixuna sobre invasões a sua residência.
- Temos certeza de que eles foram mortos por causa da atuação na área ambiental. A polícia já nos pediu informações e estamos repassando dados, nomes de quem já teria feito ameaças. Não posso falar mais para não atrapalhar a investigação -, afirmou Claudelice, que teme represálias.
Comissão discutirá aumento da violência no Pará
O Ouvidor Agrário Nacional do Ministério do Desenvolvimento Agrário, desembargador Gercino Filho, se reúne hoje, em Nova Ipixuna, com integrantes da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo para tratar do crime. Também estão previstos encontros do ouvidor - designado pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, para acompanhar o caso - com representantes da Polícia Federal, do Ministério Público Federal, Ibama, Incra, Delegacia de Conflitos Agrários do Pará e representantes de produtores rurais do Projeto de Assentamento Agroextrativista Praialta-Piranheira. Eles discutirão o aumento da violência no campo.
José Cláudio e Maria foram assassinados na localidade de Maçaranduba, a 50 quilômetros de Nova Ipixuna. Para o delegado Marcos Augusto Cruz, o casal foi vítima de uma emboscada de pistoleiros.
- Eles foram mortos a tiros na estrada que dá acesso ao assentamento onde residiam. As vítimas seguiam e, em determinado ponto, quando tiveram de reduzir a velocidade para passar em uma ponte, foram interceptados e atingidos pelos atiradores. Os autores do crime já estavam de tocaia. Eles esperavam as vítimas ali para cometer o homicídio - concluiu o delegado. - Eram pessoas que estavam inseridas em um contexto de lutas sociais. Eles eram ambientalistas, viviam em um assentamento e têm uma história de conflitos de interesses com madeireiros e fazendeiros da região - acrescentou.
Os ambientalistas faziam parte do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes, também assassinado por denunciar conflitos de terra e exploração ilegal de madeira. O casal morava há 24 anos em Nova Ipixuna e desenvolvia um projeto de exploração sustentável da floresta com 500 famílias de extrativistas, que sobrevivem da venda de óleos vegetais e de frutas como o açaí e o cupuaçu.
As vítimas eram proprietárias de uma área de 20 hectares, sendo 80% preservados. O trabalho com as famílias de extrativistas era feita em uma área de 30 mil hectares, região cobiçada por madereiras. Além de denunciarem o corte ilegal de floresta para a produção de carvão, os ambientalistas também combatiam a derrubada de árvores para formação de pasto. José Cláudio e Maria foram mortos por pistoleiros com vários tiros. O ambientalista ainda teve uma orelha arrancada.
O assassinato do casal levou a presidente Dilma Rousseff a determinar que a Polícia Federal acompanhe as investigações do crime. Segundo o Planalto, Dilma também pediu ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para que tomasse as providências necessárias para que seja descoberta a autoria do crime.

O Globo, 26/05/2011, O País, p. 14

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