VOLTAR

Ex-Funai critica 'ingerência política' e relata pressão de líder do governo em indicações

G1 g1.globo.com
Autor: Gustavo Garcia
26 de Jun de 2017

O ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) Antônio Fernandes Costa criticou nesta segunda-feira (26) a "ingerência política" no órgão e relatou pressão do líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), enquanto esteve à frente da fundação.

Costa deu as declarações ao participar de uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado da qual participaram somente dois parlamentares. Procurada pelo G1, a assessoria de André Moura informou que não comentará o assunto.

Antônio Fernandes Costa foi demitido da presidência da Funai no mês passado. A exoneração foi publicada no "Diário Oficial da União" e assinada pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

À época, ele disse à GloboNews que havia sido exonerado por ser honesto e por não ter nomeado cerca de 20 aliados de André Moura que "nunca haviam visto um índio".

"Sofri nesses meses um assédio muito forte para que eu pudesse colocar [indicados] na instituição já com cargos definidos", disse Costa aos senadores nesta segunda.

"Eu tenho provas disso. 'Tira fulano e coloca fulano'. Em torno de 21 cargos. Principalmente, na área financeira da instituição. Eu não poderia permitir porque poderia ter um desmantelamento da instituição. Resisti e isso foi objeto da minha exoneração", completou.

Em seguida, o ex-presidente da Funai detalhou as pressões que disse ter sofrido de André Moura. "Fui chamado aqui no gabinete do líder duas ou três vezes e ele me disse em bom tom: 'O cargo é meu e, se você não cumprir, eu te tiro'".

Costa havia assumido o comando da fundação em janeiro, indicado pelo PSC, partido ao qual André Moura é filiado.

Críticas a Serraglio

Na sequência, Costa relatou à comissão do Senado ter dito a André Moura que não tinha "vaidade" de ser presidente da Funai e que, por ter negado nomear aliados do deputado, ele acredita que o líder do governo articulou com o ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio a exoneração.

"Um deputado ser dono da Funai é o fim da picada, o fim do mundo [...]. A maioria das vezes, esses deputados não conhecem a política indigenista", opinou.

O G1 buscava contato com Serraglio até a última atualização desta reportagem.

Para o ex-presidente da Funai, o ex-ministro da Justiça não entende "nada" das políticas para os indígenas e é ligado a ruralistas. Ele chamou a nomeação de Serraglio de "desastre".

"As poucas vezes que eu tive agenda com o ministro, eram agendas ruralistas, inclusive, com pressão em cima deste presidente para que eu apoiasse o marco regulatório [de demarcação de terras indígenas]", disse.

Falta de 'cuidado especial'

Ainda na audiência pública, o ex-presidente da Funai disse que, na visão dele, o Ministério da Justiça "não tem um cuidado especial com as políticas indígenas".

À Comissão de Direitos Humanos do Senado, Costa afirmou, ainda, que, para ele, se o presidente Michel Temer tivesse "visão da política indigenista", não teria nomeado um "ministro ruralista", ao se referir a Osmar Serraglio, que deixou a pasta no mês passado.

"Foi um erro fatal que acabou criando uma série de problemas para o próprio presidente", completou.

O G1 procurou a assessoria de Temer e aguardava resposta até a ultima atualização desta reportagem.

http://g1.globo.com/politica/noticia/ex-funai-critica-ingerencia-politi…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.