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Estado quer recuperar a estrada para Castelhanos

FSP, Cotidiano, p. C8-C9
25 de Abr de 2010

Estado quer recuperar a estrada para Castelhanos
Praia em Ilhabela terá controle do número de turistas, que terão de pagar para entrar
Projeto do governo de São Paulo prevê viabilizar a travessia da ilha, de leste a oeste, a partir do ano que vem, em estrada de 22 km

Alencar Izidoro
José Ernesto Credendio
Da reportagem local

Não será mais preciso encarar uma aventura dentro de um jipe em curvas sinuosas, enlameadas, escorregadias e margeadas por um desfiladeiro de até 800 metros de altitude para conseguir acessar a baía de Castelhanos, uma das praias mais preservadas e cobiçadas de Ilhabela, litoral norte paulista.
A partir de 2011, a implantação do projeto da estrada-parque de 22 km permitirá cruzar a ilha de leste a oeste, alcançando esse reduto ecológico com um carro comum, sem vivenciar um rali, experiência desagradável para não iniciados.
No final de 2008, uma pessoa morreu ao tentar cruzar a estrada à noite. Com a nova infraestrutura, haverá dois bolsões de estacionamento, áreas de descanso, portal e mirantes.
Até mesmo quem conhece bem a estrada não se arrisca. "Tenho uma picape 4 x 4 e não coloco lá, de forma nenhuma. Pelo tempo que demora e pelo desgaste do turista na viagem, poucos jipeiros continuam indo para Castelhanos", diz Carlos Nunes, do conselho gestor do parque estadual de Ilhabela.

Ingresso
O turista também ficará sujeito ao pagamento de ingresso -e será fixado um número máximo de visitantes diariamente, para evitar a degradação.
A melhoria do único acesso por terra à baía de Castelhanos, uma discussão que se arrasta há pelo menos uma década, foi acertada no final do mês passado por uma resolução conjunta das secretarias do Meio Ambiente e dos Transportes do governo de São Paulo.
O cronograma prevê a conclusão das intervenções só em 2011, mas as obras de drenagem e contenção das encostas até o pico da serra já começaram -e quem for para lá no próximo verão já vai notar a melhora no acesso, se as promessas do governo forem cumpridas.
"Neste ano já deve ter novidade", afirma Silvio Aleixo, secretário-adjunto dos Transportes. "O que queremos é dar condições de trafegabilidade."
Mas por que cobrar ingresso e restringir os visitantes? "É para não incentivar um número exagerado, que não seja possível de comportar", diz ele.
Segundo Aleixo, a definição do preço da entrada e do número de pessoas por dia sairá da Secretaria do Meio Ambiente.
Hoje, quem quer visitar Castelhanos costuma buscar opções de acesso pelo mar ou com veículos com tração nas quatro rodas. Mesmo assim, já foi preciso usar helicóptero para resgatar pessoas ilhadas.
"É uma área acidentada, sinuosa, com curvas de quase 90 graus. Até os jipeiros têm dificuldade de ir lá", afirma ele. O pavimento ainda será de terra, mas com tratamento químico ou outro tipo de perenização, de forma a permitir a fluidez para um veículo comum.
O secretário diz que a expectativa é concluir a implantação de toda a infraestrutura turística em 18 meses. Embora diga não ter ainda a estimativa oficial dos custos, Aleixo diz que eles não poderão passar da faixa de R$ 10 milhões.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2504201015.htm

Plano abre espaço para polo turístico em Ilhabela

Da reportagem local

A reforma na estrada de Castelhanos vai permitir o fortalecimento do turismo em toda a região da baía, mas abre caminho também para investimentos imobiliários e à degradação do paraíso ecológico da ilha.
Com o acesso mais fácil -hoje o tempo de viagem chega a duas horas sacolejando em jipes- será possível instalar hotéis e pousadas com apelo do ecoturismo fora dos limites do parque, diz o prefeito de Ilhabela, Toninho Colucci (PPS).
Há cerca de dez anos, empreendedores tentaram lotear parte das áreas. Ruas foram abertas, mas o projeto não caminhou. Agora, prevê Colucci, nada impedirá a construção de estruturas menos agressivas.
"Com a segurança na estrada, vamos criar oportunidades novas para o turismo, mas aqui não existe mais a explosão imobiliária desenfreada. Serão projetos autossustentáveis."
A melhora das condições da estrada deve vir acompanhada por investimentos públicos, para levar mais fiscalização e acesso a serviços públicos em Castelhanos -onde moram cerca de 800 pessoas e o socorro médico chega de barco.
Essa é a opinião de Carlos Nunes, do conselho gestor do parque, que apresenta uma proposta ainda mais polêmica. Para ele, é possível permitir pousadas e bangalôs mesmo dentro do parque estadual.
"Se existe a proposta de cobrar a entrada, temos de criar benefícios. E o parque só se sustentaria se fosse permitido instalar pequenas pousadas, nada de grande porte. Queremos ser uma nova Costa Rica", diz.
No local não existe telefone e os celulares não funcionam. Quando chove muito, crianças não vão à escola porque não conseguem atravessar os riachos. A própria professora depende de jipeiros.
O novo compromisso do governo de intervir em Castelhanos pode ser só mais uma promessa não cumprida, afirma o jipeiro Josemar Santos Souza, um usuário permanente da via.
"Concordo com o que falam, que é preciso limitar o número de pessoas, dar mais estrutura, orientar melhor o turista. Lá é arriscado, mesmo para quem conhece", diz o jipeiro.
Hoje, ir para Castelhanos com veículos leves é uma aventura. Se chover muito, não dá para voltar pela estrada.
E por falta de fiscalização, a fauna da areia sofre com motoristas e motoqueiros circulam na praia. (José Ernesto Credendio e Alencar Izidoro)

FSP, 25/04/2010, Cotidiano, p. C8-C9

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2504201017.htm

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