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Era digital chega as aldeias

CB, Brasil, p. 16
08 de Mai de 2004

Era digital chega às aldeias

Renata Giraldi
Da equipe do Correio

Enviar um e-mail do interior da região amazônica na língua indígena do povo parakanã seria um exercício de imaginação anos atrás. Mas,. desde o mês passado, não apenas os parakanã, mas todos os moradores que vivem em 16 cidades espalhadas por oito estados da região, terão acesso a 20 telecentros de informática. Os interessados poderão assistir aulas ou fazer cursos para instrutores. É a proposta da Rede Topawa Ka'a (significado em parakanã de rede da floresta), recém-inaugurada pelas Centrais Elétricas do Norte (Eletronorte).
"É um esforço importante para abrir perspectivas", analisa o ex-presidente da Eletronorte, Silas Roundeau Cavalcante Silva. "Os ganhos que virão com o tempo são a aprendizagem e a possibilidade de dar mais alternativas a quem vive em áreas isoladas e de baixo índice de desenvolvimento humano (IDH) ", acrescenta.
"A proposta é positiva. Sou inteiramente favorável à iniciativa por ser um meio de consolidar a integração no país", comenta o presidente da Fundação Nacional do índio (Funai), Mércio Pereira Gomes.
A oportunidade dada aos índios é rara e distante da vivida por 96,7% da população brasileira. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), de 2002, dos 170 milhões de habitantes do país, apenas 3,3% - o equivalente a 6,8 milhões de pessoas -dispõem de computadores em casa. Um número mínimo, segundo especialistas.
Desvendar mistérios
Nos telecentros, será possível acessar a internet e ter o próprio e-mail. A parceria da Eletronorte com o portal IG permitirá que os interessados tenham contas gratuitas serão disponibilizadas 300 mil. Inicialmente, instrutores da estatal darão aulas, mas a idéia é que eles preparem pessoal das comunidades. "Assim, a comunicação será mais fácil e formará uma verdadeira rede", observa Roundeau.
Um dos relatórios da Eletronorte sobre as primeiras experiências nos telecentros revela a descoberta da informática por três gerações de índias de uma mesma família. A avó Maria Augusta Xipaia, 57 anos, a filha dela Maria de Jesus Borges Xipaia, 32, e a neta Ana Andreza Borges Xipaia, 10. "Não posso pagar os cursos e muito menos os computadores. Mas aqui vou poder usar sempre que quiser. Isso aqui vai iniciar uma nova fase", comemora a anciã.
A experiência da família Xipaia contribui com a meta da organização não-governamental Comitê para a Democratização da Informática (CDI), que é fazer com que cidadãos de todo o país aprendam a usar as novas tecnologias - principalmente, o computador. E mais do que isso: tenham acesso a elas.
Telecentros
0 computador utilizado nos telecentros é um Pentium 4, com 2,4 gigahertz, memória RAM de 1,5 gigabites e placa de vídeo 3D. A conexão com a internet é feita em banda larga por meio de uma antena de satélite. A idéia é usar na infra-estrutura fibras óticas da própria Eletronorte. Também está no projeto o uso de softwares livres.
Os telecentros serão fiscalizados e gerenciados com apoio de um conselho gestor eleito por moradores das comunidades em que forem implantados. Segundo a direção da Eletronorte, a construção e recuperação de espaços para serem transformados em telecentros também prestará serviços indiretos às prefeituras, aos estados e até à União.

CB, 08/05/2004, Brasil, p. 16

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