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Engenharia ecológica chinesa

OESP, Metrópole, p. A12
Autor: REINACH, Fernando
27 de Jan de 2018

Engenharia ecológica chinesa
Entre 1999 e 2013 já foram reflorestados 28 milhões de hectares no sudoeste do país

A China não brinca em serviço. Está executando os maiores projetos de reflorestamento do planeta, grandes o suficiente para mudar a paisagem de parte do país. A análise das áreas reflorestadas, utilizando imagens de satélites, indica que está dando certo. Durante o período em que a China foi governada por Mao, vastas áreas de florestas nativas foram derrubadas para a produção de lenha e material para construção. No sudoeste da China, o efeito dessa devastação foi trágico. A desertificação e a erosão dessas áreas ameaçavam a produção de alimentos. Em 1999, a China decidiu replantar essas florestas e lançou um megaprojeto de reflorestamento.

Entre 1999 e 2013 já foram reflorestados 28 milhões de hectares. É o equivalente à área do Estado de Alagoas. Para você ter uma ideia do tamanho, basta lembrar que toda a soja no Brasil ocupa 33 milhões de hectares, a cana-de-açúcar, 9 milhões e as florestas de eucalipto, 4,8 milhões de hectares. Em termos de desmatamento, o Brasil perde aproximadamente 500 mil hectares de Floresta Amazônica por ano. Ou seja, em quatro anos a China plantou o equivalente a 56 anos de desmatamento amazônico!

Esses projetos consumiram US$ 19 bilhões (R$ 60 bilhões), valor equivalente ao que o Brasil gastou em educação em 2017. É muita área e muito dinheiro, mas o objetivo é mudar a ecologia de toda a região sudeste da China.

Em 80% da área foram plantadas árvores nativas misturadas a árvores que pudessem ser cortadas no futuro de maneira sustentável. Em 20% da área foram plantadas árvores nativas com ênfase nas plantas medicinais utilizadas na China. O projeto foi financiado pelo governo, mas executado pelos agricultores locais, que receberam sementes, orientação e incentivos financeiros.

O problema de um projeto dessa magnitude é avaliar se, como um todo, ele está dando certo e é isso que foi feito agora com o uso de satélites. Imagens de toda a região obtidas anualmente entre 1982 (antes do início do programa) e 2015 foram analisadas usando dois critérios. Um deles mede a fração da área total que está coberta por vegetação, ou seja, está verde. Esse índice não permite saber quanto de vegetação se acumulou na área (não distingue um pasto de uma floresta). O segundo índice permite calcular a quantidade de carbono acumulada acima do solo em cada hectare analisado.

Os resultados são impressionantes e se referem a todo o sudoeste da China. As áreas de solo nu, sem vegetação, que passaram a ser cobertas, atingiram 5 milhões de hectares entre o ano 2000 e 2010 (isso não inclui florestas plantadas em locais onde já havia vegetação). Um reflorestamento anual equivalente ao nosso desflorestamento na Amazônia (500 mil hectares por ano).

Além disso, a quantidade total de biomassa acumulada acima do solo na área do projeto aumentou em 9%, um número grande o suficiente para alterar o balanço de carbono de toda a China. A conclusão é que o projeto está funcionando.
Mas os cientistas deixam claro que essa análise precisa ser complementada com estudos no local. Os satélites não conseguem avaliar a biodiversidade do que foi plantado e a diversidade de plantas e animais que estão ocupando essas florestas. Como houve incentivo para o plantio de espécies que no futuro possam ter valor comercial (madeira e plantas medicinais), ainda não é possível avaliar quão semelhantes essas novas florestas são das florestas originais.

Esse projeto, cujo objetivo é remodelar o sistema ecológico de grandes áreas, é único no mundo e demonstra o pragmatismo chinês. Essa iniciativa demonstra que a humanidade tem condições de recompor o que destruiu. Os puristas vão argumentar que provavelmente essas florestas não são idênticas às originais, mas os chineses não se importam: é melhor preservar o solo com florestas do que perdê-lo para a desertificação e erosão. É animador.

OESP, 29/01/2018, Metrópole, p. A12

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