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Energia vital

O Globo, Tema em Discussao: Ecologia e progresso, p.6
Autor: POS, Willer
06 de Dez de 2004

Energia vital
Willer Pos
Juntamente com Índia, China e Rússia, o Brasil tem o potencial de integrar a lista das grandes potências nas próximas décadas. Temos um quadro econômico favorável, recursos minerais, um clima extraordinário que nos permite até três safras agrícolas anuais e, acima de tudo, um povo extremamente criativo. Mas a energia que geramos é insuficiente.
Nosso potencial energético instalado é de 87.000 MW, e necessitaremos de no mínimo 110.000 MW para o ano 2010. Temos uma vocação natural para geração hidráulica com custos competitivos, ambientalmente viável e estrategicamente localizada, mas tudo conspira para não atingirmos esse objetivo. Alguns setores acusam este tipo de geração de impactar o clima pela emissão de gases de efeito estufa e pelo descaso quanto às questões socioambientais. Usam meios até ilegais para impedir a instalação destes empreendimentos.
Mas os dados não validam as acusações. A emissão de CO2 e outros gases do efeito estufa por empreendimentos hidrelétricos é infinitesimalmente pequena, em comparação com cimenteiras, queima de combustíveis fósseis e até atividades pecuárias.
Do ponto de vista ambiental, no passado realmente houve excessos. Mas hoje, os instrumentos legais são mais do que suficientes para coibir desmandos e injustiças nos processos de indenização, relocação e uso da água. Os que outrora eram chamados de atingidos de barragens hoje podem ser adjetivados de beneficiados de barragens. Não conheço ninguém que possuía terras no entorno de barragens hidrelétricas que não tenha ganho com o empreendimento. E podemos citar vários deles como exemplos de integração socioambiental em Minas Gerais, como Funil, Porto Estrela, Aimorés e Candonga.
Quanto à geração nuclear, ela responde por 2,5% da nossa energia, índice que tentamos elevar para 4%. Mas toda a sociedade está sendo instruída contra o projeto. Relembram Tchernobyl, resultado da irresponsabilidade típica do sistema político da época. Ignoram ou fingem esquecer que a França tem 78% de sua geração elétrica por usinas nucleares; nos EUA são 20%; no Reino Unido, 22%; no Japão, 34%. É uma energia tão ou mais segura que as outras formas. Os mecanismos internacionais de controle são mais restritivos que todas as salvaguardas de licenciamento ambiental. E não há emissão de gases de efeito estufa.
A quem interessa a desinformação ou a omissão de dados? A todos, menos a nós, brasileiros.
Willer Pos é ex-presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais.

O Globo, 06/12/2004, p. 6

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