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Energia futura está dependendo de São Pedro e da Bolívia

OESP, Economia, B2
Autor: RACY, Sonia
15 de Mai de 2007

Energia futura está dependendo de São Pedro e da Bolívia

Sonia Racy, sonia.racy@grupoestado.com.br

Minucioso estudo feito por reconhecido expert do setor energético, que circula entre empresas, dá a exata dimensão das perspectivas futuras deste setor no Brasil: são negras. Se São Pedro parar de ajudar o Brasil como vem fazendo nos últimos anos e se a Bolívia parar de investir na expansão do setor de gás como parece que vai acontecer, vai sim faltar energia já a partir de 2009, quando o risco estará acima do considerado aceitável pelo setor. E, se os céus se irritarem e a Bolívia também, o perigo se antecipará para 2008. Só para manter o atual suprimento para o Brasil, a Bolívia precisaria investir US$ 50 milhões por ano e, para cumprir o contrato assinado com a Argentina, outros US$ 250 milhões por ano. Como a Bolívia não terá recursos para tanto, qual estrangeiro vai se habilitar em colocar mais dinheiro por lá, ante a onda nacionalista? Que chamem o Hugo Chávez...

Uma análise da expansão do sistema de geração, com base em dados do próprio governo, mostra que o estoque de obras em 2002, no fim do governo FHC, era de 14.327 MW. Caiu para 11.068 MW em 2003, para 7.594 MW em 2004, 6.252 MW em 2005 e está em 4.038 MW este ano. Uma redução geométrica significativa e alarmante. Para 2007, projeta-se um aumento para 6.983 MW, subindo gradativamente até 2011 para a geração de 24.527 MW, acusando declínio até chegar em 2015 com 718 MW, o que não é nada bom.

E mais. Para chegar-se à produção de 24.527 MW em 2011 é preciso que entrem em operação novas hidrelétricas e algumas delas nem sequer saíram do papel, como as de Baguari, Serra do Falcão, Dardanellos e Simplício, as duas últimas de Furnas. Como se sabe, o prazo mínimo de construção de uma hidrelétrica é de sete anos. E todas elas estão dentro do PAC, sabidamente empacado.

Se somente estes dados não fossem motivo de alarme, há mais. No quadro de evolução da oferta de energia assegurada no sistema, as termoelétricas têm crescimento acentuado. Só a Petrobrás está programada para construir 6 mil MW. São essas térmicas as responsáveis por fechar o modelo construído pelo governo Lula. No lápis: em 2007, a participação prevista das térmicas é de 7% do mercado e em 2011, de 15%. Além de poluir, isto vai doer no bolso do consumidor. Hoje, o custo fixo de construção das hidrelétricas é de R$ 152,00 por MW e das térmicas, de R$ 233,4 por MW. E, se faltar gás e conseguirmos competir com a demanda dos EUA, vai doer ainda mais. Hoje, o gás liquefeito natural, que pode ser importado de vários lugares, tem custo de US$ 10,00 por MW.

O Brasil poderia investir mais em hidrelétricas? Pelo estudo, poderia sim. O País tem hoje em operação 70 mil MW e há espaço para se construir mais 200 mil MW. O que impede é o meio ambiente. No entanto, o consenso é de que, se houver projetos sustentáveis e bem estruturados, o prejuízo seria mínimo. A Usina de Juquiá, em São Paulo, foi construída dentro de uma mata. Hoje, da mata só sobrou a área de preservação pertencente à Usina. Já no caso da usina a ser construída no Rio Madeira, projeto que está causando debates inflamados, é sabido que a realocação de 20 mil pessoas que vivem em torno do rio possibilitaria um aumento de 6% na geração elétrica total do País, empregando algo como 1,5 milhão de pessoas. Pela Constituição, o Estado é obrigado a fornecer energia, bem como a proteger o meio ambiente. Portanto, tem que fazer um balanço sobre o desconforto de uns e o benefício de outros. A China, para se ter uma idéia, para construir a gigante Usina Três Gargantas, deslocou nada menos que 1,6 milhão de chineses para fazer o empreendimento que hoje impede que o País fique sem luz.

OESP, 15/05/2007, Economia, B2

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