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Energia elétrica

O Globo, Tema em Discussão, p. 6
Autor: FURTADO, Euvanice Jesus
06 de Ago de 2007

Energia elétrica

Futuro em questão

Nossa Opinião

O quadro energético do país tende a ganhar cada vez mais importância entre as preocupações de governos, políticos, empresários e da própria sociedade como um todo. Além de a disponibilidade de gás natural ter passado a ser uma incógnita depois da chegada ao poder de Evo Morales na Bolívia, a geração interna de energia por via hidráulica também passou a justificar temores.

Por esse motivo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou na quarta-feira passada uma reunião extraordinária com o Conselho Nacional de Política Energética, CNPE. Os números apresentados a Lula eram otimistas: segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o risco de um apagão até 2011 ficaria abaixo dos 5%, mesmo com a economia crescendo em média 4% ano.

Não há concordância no mundo acadêmico. Alguns especialistas chegam a prever problemas, a depender da hidrologia, a partir de 2009. Importa saber que, mesmo considerando factíveis as projeções mais otimistas, o país precisa acelerar os investimentos na exploração do que resta do seu potencial hidrelétrico. Não há saída.

Não fazem, portanto, sentido movimentos - não importa de que origem - contrários ao uso desse potencial. A alternativa à hidreletricidade é uma energia mais cara e de fonte poluente. E as usinas nucleares - que o país faz bem em voltar a construir levam mais tempo para entrar em operação do que hidrelétricas. São, então, uma alternativa que não resolve os problemas de médio prazo.
As necessidades de energia não podem ser atendidas apenas por fontes alternativas. Caso não se construam e entrem em operação a tempo as hidrelétricas previstas, o apagão será inevitável.

E afetará todos, a começar pelos segmentos socialmente mais vulneráveis, onde transitam grupos como o Movimento dos Atingidos por Barragens. Há desemprego e pobreza com energia elétrica, mas, se o crescimento da economia não for sustentado pelo aumento da oferta de energia, não haverá chance de se gerar empregos e combater a miséria.

Outra Opinião

Pesados custos

Euvanice Jesus Furtado

A concessão da licença para as obras do Complexo Madeira, recentemente emitida pelo Ibama, é momento oportuno para os atingidos mostrarem os reais impactos ambientais e sociais causados por esses megaempreendimentos. É a hora de mostrar a quem serve essa energia gerada a tão alto custo financeiro, ambiental e humano.
A Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, desalojou cerca de 32 mil famílias, segundo a própria Eletrobrás. Indignadas com a situação, não resolvida até hoje, cerca de 600 famílias, organizadas no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e Via Campesina, ocuparam a hidrelétrica. O ato demonstrou coragem e esperança de receber terra para trabalhar, educação, saúde e elementos para uma vida digna. Esperança de resgatar o que lhes foi tirado em conseqüência da obra.

O que não foi divulgado por alguns setores da imprensa é que, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), as conseqüências sociais e ambientais de Tucuruí foram, e continuam a ser, negativas e prejudiciais. Algumas delas: infestação de mosquitos Mansonia; desaparecimento do pescado que sustentava a população a jusante da barragem; efeitos sobre a saúde devido à malária e contaminação por mercúrio; deslocamento de ribeirinhos e grupos indígenas.

Mesmo assim, a hidrelétrica foi construída. Mas a energia gerada beneficia quem? Ainda de acordo com dados do Inpa, quase dois terços da energia de Tucuruí se destinam à indústria do alumínio. Enquanto isso, as famílias que moram nas ilhas formadas pelo lago da usina estão sem energia 20 anos após a construção da barragem.

Os impactos continuam. Sob o discurso falacioso da falta de energia decorrente do crescimento econômico do país nos próximos anos, o governo projeta a construção de novas barragens até 2010. Desta vez, os rios da Amazônia são os principais alvos e o Complexo Madeira, a arma mais poderosa.

O MAB continuará lutando contra essas obras que não interessam ao povo brasileiro, e sim a empresas transnacionais. A ocupação do canteiro de obras da transposição do Rio São Francisco é exemplo de como pretendemos resistir.

O Globo, 06/08/2007, Tema em Discussão, p. 6

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