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Em favor do povo

O Globo, Opinião, p. 6
Autor: BASTOS, Claudia
05 de Dez de 2011

Em favor do povo

Claudia Bastos

TEMA EM DISCUSSÃO: Plebiscito sobre novos estados no Pará

O estado do Pará tem uma área com mais de 1,2 milhão de quilômetros quadrados e uma população de 7,3 milhões de habitantes, dos quais 35% vivem em Belém. Isso significa que mais de 4 milhões de pessoas estão espalhadas em áreas tão distantes da capital que muitos não existem perante a lei e, por consequência, não possuem documentos e/ou não têm acesso a serviços ou benefícios públicos.

Em pleno século XXI, 87% dos moradores da capital não dispõem de saneamento básico. Sem contarmos os milhares de paraenses que moram em palafitas construídas sobre os rios que cortam Belém. Dia 11 de dezembro o povo paraense dará um grande passo: escolher se quer ou não a divisão do Pará em dois novos estados - Carajás e Tapajós.

De um lado, políticos que há décadas manipulam a opinião pública, junto a empresários que também são contrários à mudança. De outro, fazendeiros lutam pela divisão já pensando em benefícios próprios. E, claro, políticos de olho nos novos cargos de governador, deputados estaduais e federais, senadores e vereadores.

O que ninguém pensa é nos benefícios que a população ribeirinha terá nessa divisão. Muitos moram em locais distantes, com mais de mil quilômetros da capital. Ora, se Belém tem condições precárias, o que dizer dos paraenses do interior que nunca tiveram acesso ao mínimo para alcançar dignidade e cidadania - saúde e educação?

Será que eles devem continuar alijados do processo de crescimento econômico do país? Será que com a criação de Carajás e Tapajós essas pessoas não teriam melhores condições de sobrevida e acesso a políticas públicas? Esta é a pergunta que não quer calar!

Este lindo e rico estado tem um dos povos mais alegres e felizes que já conheci. Como jornalista, tive a oportunidade de conhecer vilarejos no meio do nada. A comida pouca era peixe com farinha, que os ribeirinhos dividiam com a equipe com um baita sorriso nos lábios.

O Pará tem riquezas das quais não usufrui. Não só na biodiversidade, vítima indefesa da especulação e do roubo de estrangeiros que buscam novos remédios para curar doenças, mas também no setor de minérios como ouro, bauxita, ferro, estanho e manganês, riquezas em parte exploradas por grandes empresas. Pedras preciosas também são encontradas em algumas regiões, principalmente ametista e esmeralda, tão cobiçadas internacionalmente. Sem contar a extração ilegal de madeira e o tráfico de drogas, facilitados pela imensa área carente de fiscalização.

Garimpeiros, muitos oriundos de Serra Pelada, ainda acalentam o sonho dourado de encontrar ouro nos rios e barrancos, provocando destruição da floresta e trazendo sérios danos também para a saúde da população pelo uso abusivo do mercúrio.

Projetos isolados de cidadania, como o da ONG Saúde e Alegria, e outro da Marinha do Brasil, levam assistência médica e odontológica às comunidades ribeirinhas da Amazônia, desbravando rios e florestas, oferecendo um pouco de dignidade (ou cidadania?) às populações.

Nesta nobre e importante decisão, não podemos esquecer dos maiores interessados - o povo paraense, que merece atenção, respeito pela manutenção de sua cultura, resgate de sua dignidade e implantação da verdadeira cidadania. Que eles mais que merecem!

Claudia Bastos é jornalista e paraense.

O Globo, 05/12/2011, Opinião, p. 6

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