Eletronuclear suspende os contratos das obras de Angra 3

Eletronuclear suspende os contratos das obras de Angra 3
Auditoria externa vai investigar suspeitas de irregularidades

RAMONA ORDOÑEZ
ramona@ oglobo.com.br

"Não poderíamos continuar sem reavaliar todos os contratos, as fontes de financiamentos, diante de todas essas dúvidas que passaram a pairar em função da Operação Lava- Jato" Pedro Figueiredo Novo presidente da Eletronuclear
A Eletronuclear suspendeu ontem todos os contratos relativos às obras da usina nuclear de Angra 3 pelo prazo de 90 dias. A suspensão pode ser prorrogada por até 120 dias. A informação foi dada pelo novo presidente da estatal, que assumiu anteontem, Pedro Figueiredo. Ele explicou que a decisão tem o objetivo se realizar uma investigação minuciosa nos contratos, que será feita por uma empresa de consultoria, em fase contratação.
Os contratos das obras de Angra 3 também estão sendo alvo das investigações da Polícia Federal no âmbito da Operação Lava- Jato, que apura um esquema de corrupção entre ex- funcionários da Petrobras e da Eletronuclear e fornecedores.
O novo presidente da estatal do setor nuclear destacou que os contratos das obras da usina já estão passando por uma investigação feita pela empresa de auditoria externa Hogan Lovells: Global Lawyers, contratada pela Eletrobras, holding do setor elétrico.
- Suspendemos todos os contratos para se ter um apanhado geral de toda situação, para verificarmos todas as condições. Não poderíamos continuar sem reavaliar todos os contratos, as fontes de financiamentos, diante de todas essas dúvidas que passaram a pairar em função da Operação Lava- Jato - afirmou Figueiredo.
EX- PRESIDENTE ESTÁ PRESO
As contratações para as obras de Angra 3 são investigadas pela Lava- Jato, o que resultou na prisão, em julho, do então presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva. Ele é suspeito de ter recebido R$ 4,5 milhões de propina em contratos da Andrade Gutierrez e da Engevix, segundo a Polícia Federal. Até então, Othon Luiz era considerado um dos maiores cientistas brasileiros, por ter coordenado o programa nuclear paralelo, desenvolvido pela Marinha a partir de 1979.
Com a nova paralisação nas obras, a entrada em operação comercial de Angra 3 vai atrasar em um ano. Segundo Figueiredo, o objetivo agora é tentar concluir as obras em fins de 2018 para iniciar sua operação comercial em 2019. A construção de Angra 3 foi reiniciada em 2009, após uma paralisação de 23 anos.
Na última segunda- feira, o Conselho de Administração da Eletronuclear elegeu o engenheiro eletricista Pedro Figueiredo para ocupar a presidência da estatal no lugar de Othon Luiz. Funcionário de carreira do grupo Eletrobras, ele era diretor de Operações. Participou do início do funcionamento da usina de Angra 1, em 1982.
A decisão de suspender os contratos das obras da usina por 90 dias foi tomada também durante reunião do Conselho de Administração da Eletronuclear. A medida implicará na suspensão temporária dos contratos com a construtora Andrade Gutierrez, responsável pela execução das obras civis. Procurada pelo GLOBO, a construtora informou que não comentaria o assunto.
No início de setembro, a Eletronuclear já tinha suspendido o contrato com o consórcio Angramon, responsável pelas obras da montagem eletromecânica da usina. Em agosto, haviam saído do Angramon as empresas Odebrecht, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão. Participam ainda do consórcio Angramon a UTC, Andrade Gutierrez, Empresa Brasileira de Engenharia ( EBE) e a Techint. A maioria das empresas está envolvida na Lava- Jato.
Figueiredo disse que um de seus principais objetivos será "limpar" a reputação e a imagem da Eletronuclear, abalada devido ao escândalo de corrupção envolvendo seu expresidente.
INVESTIMENTOS DE R$ 14,9 BILHÕES
Outra meta do novo presidente será, segundo ele, tentar resolver todos os problemas atuais que atingem o projeto da usina de Angra 3, para conseguir concluir a usina. O prazo inicial para que ela entrasse em operação era 2016.
Com 1.405 megawatts ( MW) de capacidade, Angra 3 será a terceira usina nuclear do país, depois de angra 1 e Angra 2, ambas em operação. As obras de Angra 3 tinha investimentos totais estimados em R$ 14,9 bilhões, dos quais 75% serão investidos do país.
A entrada em funcionamento de Angra 3 vai aumentar a confiabilidade do sistema elétrico no Estado do Rio de Janeiro, ponta do sistema interligado.

O Globo, 30/09/2015, País, p. 6

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