VOLTAR

Eletronorte vai ficar com o Maranhão

Viaecológica-Brasília-DF
16 de Jan de 2003

A Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte) deverá ser presidida por Silas Rondeau, presidente da Boa Vista Energia S. A (Bovesa). A indicação da presidência da estatal coube ao senador José Sarney (PMDB-AP), candidato apoiado pelo Planalto para presidir o Congresso, mas o Partido dos Trabalhadores (PT) tratou de garantir técnicos de seu quadro em diretorias-chave da empresa.
A nova diretoria da Eletronorte será confirmada na reunião do novo conselho administrativo da empresa, na próxima terça-feira, mas os nomes já foram indicados em uma Assembléia Geral Extraordinária, na quarta-feira, 15. Nas cinco horas de assembléia, ficou claro que o poder na Eletronorte será compartilhado entre o PMDB (leia-se Sarney) e o PT: diretorias estratégicas serão controladas por assessores destacados do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Durante o governo FHC, a presidência da Eletronorte foi território quase exclusivo de Sarney. O atual presidente da estatal, o engenheiro José Antonio Muniz Lopes, era indicação do senador maranhense. No governo petista chegou a ser cogitado o nome do senador Ademir Andrade (PSB), candidato derrotado ao governo do Pará.
Andrade foi prejudicado inicialmente pelo impasse criado por seu próprio partido. Caciques do PSB, como Miguel Arraes e o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, insistiam em controlar outra grande geradora de energia elétrica: a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). O PT decidiu que somente uma das grandes geradoras de energia elétrica ficaria com o partido e o impasse consumiu quase três semanas.
A demora foi fatal para o senador paraense. Na quarta-feira à noite, em uma reunião com o ministro da Casa Civil, José Dirceu, Andrade foi informado que a presidência da Eletronorte seria indicação de Sarney, que disputa com Renan Calheiros (AL) a presidência do Senado e vem sendo apoiado ostensivamente pelo PT.
Com a Eletronorte novamente indicada pelo senador eleito pelo Amapá, o nome escolhido foi o do engenheiro Silas Rondeau Cavalcante Silva. Funcionário de carreira da estatal, ele já presidiu outra subsidiária da Eletronorte, a Manaus Energia.
As diretorias da Eletronorte - em geral divididas entre os Estados amazônicos - desta vez estão claramente rateadas entre PT e PMDB, numa divisão de poder destinada a manter equilibradas as forças políticas na geradora.
Com o aval da ministra das Minas e Energia, Dilma Roussef (que analisou pessoalmente todos os nomes que ocuparão as diretorias de produção das grandes geradoras do País), o PT do Pará indicou o engenheiro Dilson Trindade para a Diretoria de Produção e Comercialização da Eletronorte. Homem de esquerda, Trindade trabalhou na Rede Celpa e se destacou por intensa atuação no Sindicato dos Urbanitários do Pará. Recentemente foi um dos primeiros colocados entre os aprovados no concurso na agência reguladora de serviços públicos do governo do Pará (Arcon). A diretoria que Trindade vai comandar é um dos postos-chave da Eletronorte: comercializa a energia produzida e está encarregada de estipular os preços no Mercado Atacadista de Energia (MAE).
A mais estratégica das diretorias da Eletronorte também ficará sob a custódia petista. A Diretoria de Engenharia - que há dois anos foi extinta por conta de denúncias de irregularidades e desde então vinha sendo acumulada por José Antonio Muniz - foi recriada e entregue a um dos técnicos mais conceituados do PT: o engenheiro Israel Bayma.
Assessor técnico da bancada do PT na Câmara e engenheiro de telecomunicações, Bayma foi Indicado pelo deputado Walter Pinheiro (PT-BA) para compor a equipe de transição de governo nas áreas de telecomunicações e comunicação. Como já havia trabalhado na Eletronorte, foi também o responsável pela transição na empresa. Com o nome também avalizado pela ministra, concentra sob sua responsabilidade os contratos dos empreendimentos da estatal, o que significa controle sobre uma quantidade fabulosa de recursos públicos. Só para as obras de Tucuruí 2, a Diretoria de Engenharia maneja nada menos que US$ 1 bihão. Nos próximos anos, contratos como o da futura hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, deverão triplicar os volumes atuais de recursos sob a gestão da diretoria de Engenharia.
A Diretoria Financeira também é indicação de Sarney. Vai continuar a ocupá-la Astrogildo Fraguglia Quental, do Maranhão. Mas a Diretoria de Gestão Empresarial coube ao PT: Lourival Freitas, do Amapá, candidato derrotado ao Senado pelo partido. Ontem, a Assessoria de Imprensa da Eletronorte não confirmou as indicações de nomes do presidente e dos diretores da empresa.
Ademir Andrade se decepciona com a "desconsideração com o Pará"
O senador Ademir Andrade chegou ontem de Brasília demonstrando uma indisfarçável decepção com as decisões da semana no Planalto. Deputados estaduais e outras lideranças do seu partido, o PSB, que o aguardavam no aeroporto, somaram-se a sua indignação ante a "desconsideração" com que o Pará vem sendo tratado na divisão do poder político representado pelos órgãos federais com atuação na região.
A Eletronorte fica mesmo nas mãos do senador maranhense eleito no Amapá, José Sarney, que já havia levado para seu estado de origem o porto de embarque de minérios, a usina de pelotização do ferro produzido em Carajás (PA), inaugurada em abril do ano passado, e, por último, a tão sonhada siderúrgica para os minérios paraenses. A situação agrava-se com a disposição do governo maranhense de também levar para lá a usina de beneficiamento do cobre de Canaã dos Carajás.
Além do presidente da estatal, Sarney - preferido de Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência do Senado e do Congresso Nacional - nomeará outros dois nomes de sua diretoria, incluindo a financeira. O cacique do PMDB comanda a Eletronorte há cerca de 20 anos e manterá seu poder sobre a estatal.
O desprestígio do Pará e seus representantes políticos no Planalto petista foi a tônica da conversa no saguão do aeroporto. Ademir lamentava a decisão, que contraria o acordo feito em nível local, com acenos favoráveis da direção nacional do PT, todos então simpáticos à indicação para a estatal de um político do Pará, que participou da construção da Hidrelétrica de Tucuruí.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.