VOLTAR

Elétricas

O Globo, Economia, p. 20
Autor: VIDOR, George
04 de Fev de 2013

Elétricas
O gás de poços em terra poderá viabilizar a geração de energia elétrica por outras usinas térmicas no interior do país

George Vidor
vidor@oglobo.com.br

Dentro de pouco tempo a MPX (empresa geradorade energia elétrica do grupo EBX, de Eike Batista) chegará aos seus primeiros 1.000 megawatts. Em números redondos, a companhia tem 1.500 megawatts contratados pelo mercado apenas para as usinas térmicas programadas para o interior do Maranhão. A primeira turbina já está gerando lá 167 megawatts, aproveitando o gás natural extraído de poços em terra no campo de Gavião Real (município de Santo Antônio dos Lopes), explorado em sociedade com outra empresa do grupo (a OGX), e com uma participação de 30% da companhia petrolífera brasileira Petra. Outras quatro turbinas estão sendo instaladas.
É um modelo que provavelmente servirá para mais empreendimentos de exploração de gás no interior do país ou mesmo na costa. O gás natural que vem sendo descoberto na Bacia do São Francisco, em Minas Gerais, por exemplo está espalhado em pequenas acumulações. Fica mais fácil construir uma usina térmica nas proximidades dos poços e gerar eletricidade do que conduzir o gás diretamente para as zonas industriais já existentes ou os grandes centros urbanos do estado.
A MPX agora gera eletricidade no Porto de Pecém, no Ceará, no distrito industrial de Itaqui, em São Luís, e na área de Gavião Real (ambos no Maranhão), além de uma pequena produção no Amapá e na usina de energia solar de Tauá (interior do Ceará). O investimento ainda pesará nos balanços da empresa este ano, embora o faturamento comece a fazer diferença na contabilidade. Em 2014, é que os lucros aguardados ansiosamente começarão a aparecer.
A companhia tem vários empreendimentos com licenciamento ambiental. Só no Açu, no Norte Fluminense, pode chegar a gerar 5.400 megawatts. São usinas programadas para queimar carvão ou gás. Para sair do papel, os projetos dependem de o governo pôr em licitação concessões para geração de energia a partir do carvão. Depois do susto deste ano, é provável que a política do governo para usinas térmicas seja revista. Os 5.400 megawatts das térmicas do Açu possibilitariam um aumento do nível dos reservatórios da Região Sudeste em 30% e isso faria com que o uso dessas usinas não pesasse tanto na hora de o consumidor pagar a conta de energia.

Falta negociar com a Bolívia
O Brasil poderia "construir" mais uma hidrelétrica, de porte médio, com capacidade para gerar 350 megawatts, em apenas um ano. Construir é um modo de dizer, pois na verdade, a hidrelétrica já existe e está em fase de testar seus primeiros equipamentos. Trata-se de Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia. O nível da água, junto à barragem, não poderá ultrapassar a cota de 82 metros, mas Jirau foi preparada para chegar a 90 metros. O equivalente oito metros adicionais de água escoará pelo vertedouro da usina, sem gerar energia. Isso porque, para atingir a cota de 90 metros uma pequena área da Bolívia, na fronteira com o Brasil, seria atingida (efetivamente o país vizinho deixaria de contar com uma praia fluvial em região inabitada).
Essa "nova" hidrelétrica depende de um acordo bilateral, missão que cabe ao Itamaraty, pois na parte técnica não há objeções.
Um acordo mais amplo, aliás, poderia ser negociado com a Bolívia, pois o Rio Madeira tem espaço para mais uma grande hidrelétrica, só que a usina terá de ser necessariamente binacional, nos moldes de Itaipu, pois o represamento da água atingiria uma parte mais considerável do país vizinho. Essa área, porém, não tem atualmente aproveitamento econômico e a Bolívia, uma nação muito pobre, precisa diversificar suas receitas, tornando-se exportadora de energia elétrica para o Brasil.
A vantagem de se construir essa nova grande hidrelétrica é que as usinas de Santo Antônio e Jirau estão ficando prontas. Além de mão de obra disponível para o empreendimento, criou-se na região infraestrutura que pode ser reaproveitada a custos bem mais baixos que os originais. Material para a obra e equipamentos seriam transportados pelo rio, a montante de Jirau, pois o Madeira se tornará navegável nesse trecho.

O Globo, 04/02/2013, Economia, p. 20

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.