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DF começa a demolir imóveis em mananciais

OESP, Cidades, p. C8
30 de Jun de 2004

DF começa a demolir imóveis em mananciais
Promessa é derrubar construções irregulares no lago, mas ofensiva começa pela classe média

Leonêncio Nossa

Às vésperas da prometida derrubada de invasões milionárias com suas cercas irregulares nas margens do Lago Paranoá, o governo do Distrito Federal começou a demolir, nesta semana, casas e muros construídos por famílias de classe média baixa em uma área de nascentes e córregos pertencente à União. Elas ficam na Colônia Agrícola Águas Claras, perto da residência oficial do governador Joaquim Roriz (PMDB), na periferia de Brasília. Anteontem, um morador teve a casa demolida; ontem, foram dezenas de muros.
Há muito tempo, o Ministério Público cobra a retirada dos invasores de terras públicas e áreas de preservação ambiental. Procuradores e defensores do patrimônio histórico e paisagístico aguardam agora a promessa do secretário de Meio Ambiente de Brasília, Jorge Pinheiro, de derrubar, a partir de amanhã, cercas e obras ilegais erguidas por 72 moradores da beira do Paranoá, como os senadores Siqueira Campos (PSDB-TO) e Romeu Tuma (PFL-SP) e o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira.
Barricadas - Ontem, fiscais e tratores da Subsecretaria de Vigilância, Preservação e Conservação de Mananciais (SIV-Água), órgão ligado à Secretaria de Segurança Pública, foram recebidos com barricadas de pneus queimados, pedras e galhos, armadas pelas famílias da Colônia Agrícola Águas Claras.
O subsecretário do SIV-Água, Antônio Magno, disse que a operação é resultado de um esforço de 19 órgãos do governo distrital para preservar as áreas de nascentes de Brasília. Ele ressaltou que a vegetação da Colônia Agrícola Águas Claras foi sistematicamente destruída. "É o interesse público que está em jogo", afirmou.
Magno disse que, em relação às invasões no Lago Paranoá, a subsecretaria aguarda pedido da Secretaria do Meio Ambiente para atuar no local. Além de casas de vários políticos, o Paranoá está cercado de clubes e hotéis de luxo.
A funcionária do Ministério da Saúde Josemarie Borges, grávida de 7 meses, e seu marido, o comerciário Marcelo Augusto Borges, tiveram o muro da casa demolido. Além disso, receberam notificação para deixar o local em até 20 dias.
E os 'bacanas'? - Desesperado, Borges disse que o casal resolveu construir a residência ali, pois era a única alternativa de sair do aluguel. Ele contou que a mulher chegou a passar mal no momento em que os fiscais chegaram. "Construí esse muro com muita dificuldade e, como não consegui pagar parte da obra, acabei entrando para o Serasa", contou.
"Quero ver o governo destruir os muros dos bacanas do Lago Sul e do Lago Norte."
A autônoma Rose Freitas teme ter a casa de dois pavimentos e três quartos, construída a 30 metros do Córrego Vicente Pires e ao lado de um buritizal, demolida pelo governo. Ela disse que gastou R$ 130 mil na residência.
Cidade irregular - "Brasília inteira é irregular, mas eles só pegam o lado mais fraco", reclamou. "Estou aqui há três anos e construí minha casa em paz." Os lotes na área foram vendidos por grileiros por até R$ 30 mil cada.

OESP, 30/06/2004, p. C8

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